São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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'Oceanos' leva Lisboa rumo ao século 21

Expo-98 recupera lixão da cidade

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL

Vê-se o asfalto nascendo em direção ao oriente de Lisboa, onde antes era puro terrão e mato.
Numa rápida estancada, cresce ao lado da janela o outdoor que suplica: "Viva a cinco minutos da confusão". Era o anúncio de um prédio de apartamentos, distante cinco minutos de carro do centro de Lisboa.
Mas, que diabo! Escapávamos da confusão ou mergulhávamos nela?
Mergulhamos mesmo num gigantesco canteiro de obras -o lamaçal serpenteando construções que lembram as cidades futurísticas das histórias em quadrinhos de Flash Gordon. Deu-me a breve sensação de que voltava à Brasília dos candangos de JK que conheci no início dos anos 60.
Como Brasília, ergue-se ali, há seis meses, uma nova cidade, sobre o antigo lixão da cidade e as ruínas de velha refinaria, à beira do rio Tejo, onde tudo começou.
Passado e futuro
Se o rio imenso que se funde no oceano serviu de inspiração e ponto de partida para Vasco da Gama iniciar a grande aventura das descobertas, há cinco séculos, seu feito é o marco do reencontro de Portugal com o futuro. Pois, nas celebrações da partida do navegador em direção às Índias, em maio do próximo ano, estará sendo inaugurada a Lisboa Expo-98, que terá como tema central "Os Oceanos, um Patrimônio para o Futuro".
Em 340 hectares de terra, numa faixa que percorre o Tejo por cinco quilômetros, ergue-se esse complexo inacreditável de prédios, vãos, viadutos, marinas e uma gigantesca estação intermodal, onde se cruzarão as linhas do metrô, do trem internacional e de ônibus, entre duas praças e duas avenidas.
Mas essa é uma obra para ficar. Por isso, cerca de 70% das construções reverterão em moradias e centros de cultura e lazer.
Como aquela enorme construção que, para alguns, assemelha-se a uma nave-mãe interplanetária, para outras, a um moderno capacete de ciclista.
É o pavilhão da Utopia, um espaço multiuso, com capacidade para 12 mil pessoas sentadas, onde se desenrolarão as representações dos mitos e lendas dos oceanos durante a Expo-98. Depois, transforma-se ora em ginásio de esportes, ora em palco de megashows.
Mais impressionante e significativo, porém, é o que se aprofunda aos meus pés, rente ao Tejo.
Aqui, Portugal está recriando, em tanques equivalentes a três piscinas olímpicas, a vida de onde ela veio: desde os mais invisíveis microorganismos até os maiores anfíbios, algas, pedras, todo o universo aquático dos quatro cantos do planeta -do Antártico ao Atlântico, passando pelo Índico e pelo Pacífico.
É, ao mesmo tempo, uma reverência às águas que impulsionaram os sonhos lusos do passado em direção ao desconhecido e um alerta para que a humanidade possa preservar seu incerto futuro.

O colunista Alberto Helena Jr. viajou a Portugal convite do Icep (Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal)

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