São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Colheita do arroz nunca chega ao fim

Lenda explica fenômeno

NICIA GUERRIERO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em cada "casa" mora uma média de dez pessoas, em vários cômodos separados. O pai de todos ou o irmão mais velho da geração mais velha é o representante da casa no banjar (banhiar).
A cada banjar pertencem aproximadamente cem casas, e vários banjares formam uma desa.
Cada desa tem direito a dois representantes no governo, que é responsável pela infra-estrutura: estradas, hospitais, escolas.
O banjar controla todas as atividades sociais de suas famílias, quase sempre ligadas a cerimônias religiosas. Os membros se reúnem regularmente e decidem assuntos econômicos comunitários, festivais, limpeza e decoração das ruas, orientações para controle populacional. São chamados por diferentes toques de "coo-cool" (um sino de pedra) para reuniões extraordinárias em caso de nascimento, morte, incêndio, briga.
Na sede do banjar há sempre um bale, pavilhão coberto onde acontecem espetáculos, festas ou reuniões. Tem um trono, para acomodar o deus Isavara, que orienta os políticos.
Nas comunidades que plantam arroz, o equivalente ao banjar chama-se subak, que decide sobre a irrigação, cuida dos diques, repara aquedutos construídos minuciosamente à mão, com muitas subdivisões, de modo a chegar ao mais alto e ao mais baixo dos campos.
O subak também supervisiona fertilizantes e inseticidas, cuida da distribuição do produto. São muitas as atividades religiosas ligadas ao arroz: cerimônias, festivais, preces à deusa Sri, peregrinações ao templo Ulun Danu Beratan.
Por toda os cantos de Bali, vemos os terraços das plantações de arroz, a cultura mais importante da ilha, em todos os estágios: alagados, verdes ou amarelos pela palha, após a colheita. Há uma lenda que explica esse fenômeno.
Quando os primeiros imigrantes vieram plantar arroz na ilha, prometeram aos deuses sacrificar um porco ao fim da colheita, se ela fosse farta. A safra foi maravilhosa, mas eles não tinham o porco para pagar a promessa.
Prometeram então que, no fim da colheita seguinte, se continuassem bem-sucedidos, sacrificariam uma criança. Como não tinham coragem de matar, encontraram um jeito de nunca chegar ao fim da colheita.

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