São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Lombok é o paraíso dos noivos em fuga

NICIA GUERRIERO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se geograficamente Lombok é parecida com Bali, culturalmente é diferente. Ali a maioria das pessoas segue a religião muçulmana. E o impacto cultural causado pelos turistas é mais assustador.
Bali já conhece visitantes estrangeiros há décadas, desde um tempo em que ali só chegavam os mais curiosos por sua cultura. Lombok não tem a mesma riqueza histórica e só agora vem recebendo turistas.
Para o turista mais atento, perceber as diferenças entre as duas ilhas é esclarecedor, mas o mais compensador dessa parte da viagem se refere aos recursos naturais. Pouca gente fala inglês, é mais difícil circular, às vezes as acomodações podem não ser muito confortáveis, mas o contato com a natureza pode ser mais intenso.
O "ferryboat" chega a Lambar, onde coletivos médios e grandes aguardam os passageiros -diferente de Bali, onde quase não são vistos coletivos. Em Lombok as estradas parecem sempre cheias de gente e mercadorias de feira. As casas têm parede de palha trançada, algumas tramadas em cores, há até as cobertas de telhas.
Seguindo por pequenas estradas, as pessoas parecem surpreendidas com a passagem de turistas. Mulheres se retraem negando ser fotografadas, crianças fazem pose e pedem dinheiro e canetas.
Fuga do casamento
Nas vilas, o que mais se oferece ao turista é transporte em charretes, com os cavalos enfeitados com fitas e sininhos.
Em Lombok a religião não favorece o contato com o turista. Mas já existem vilas vendendo a cultura tradicional, chamada sassaki.
A vila Sade, pequena e tradicional, aparece nos mapas turísticos como lugar a ser visitado. Passa-se o portal da vila, em forma de celeiro, que é um símbolo da arquitetura sassaki, e logo o turista é recebido por rapazes que falam inglês e apresentam a disposição das casas e explicam os aspectos sociais.
Para casar, o noivo deve pagar um boi à família da noiva, mas, se for de outra aldeia, pagará três. É comum fugir em vez de anunciar o casamento, pois é mais barato e evita as despesas com noivado e festa de casamento.
Nas casas, os pais dormem na sala, enquanto as filhas ficam reclusas num quarto mais no fundo, para não fugir sem o consentimento disfarçado dos pais. Depois que o casal foge, o noivo visita os sogros, acompanhado dos pais, para se apresentar e negociar a retratação.
Os homens da vila trabalham na lavoura, as mulheres tecem belos panos coloridos.
As pessoas nas ruas abusam das estampas coloridas, misturam panos em desarmonia. Os rapazes costumam usar um pano costurado nos lados, formando um cilindro em posições variadas.
Além dos panos, Lombok se destaca na produção de potes de cerâmica grandes e caixas de palha trançada.

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