São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997
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Won reage, mas há risco de moratória

Moeda sobe 10%

OSCAR PILLAGALO
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

A moeda coreana, o won, reagiu ontem à maxidesvalorização da semana passada e foi negociada no limite de alta, mas a possibilidade de moratória iminente da dívida externa, que havia deteriorado a taxa de câmbio, não está afastada.
Em Seul, a capital, o dólar fechou o dia cotado a 1.563,9 wons, com alta de 10% da moeda coreana.
O comportamento do mercado de câmbio impulsionou a Bolsa de Valores de Seul, que registrou alta histórica de 7,2%.
A reação do mercado financeiro, que indica mais alta volatilidade do que tendência, resulta de uma série de fatores.
Investidores parecem ter levado em conta declaração conjunta dos candidatos à presidência que prometeram aplicar o programa econômico exigido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Além disso, o governo anunciou que vai permitir a venda ao capital estrangeiro do First Bank, instituição financeira em dificuldade que havia nacionalizado em vez de liquidar, como preferia o FMI.
O fator mais decisivo, no entanto, foi a melhora da perspectiva de o país receber mais dinheiro do exterior. Se o governo receber o que espera nos próximos dias, fica afastada por enquanto a possibilidade de "default" (moratória).
Para honrar compromissos com bancos estrangeiros, o governo está solicitando e espera obter o adiantamento da liberação de mais uma parcela do pacote de ajuda do FMI, de US$ 57 bilhões.
Essa conjunção de fatores positivos fez os mercados financeiros reagirem, mas permanece o problema central, ou seja, a liquidez apertada, caracterizada por reservas inferiores aos pagamentos que estão vencendo.
O governo confirmou que a crise cambial levou dois terços das reservas, que passaram de US$ 22,3 bilhões para US$ 7,3 bilhões. Acredita-se que elas estejam em nível ainda mais baixo. Na outra ponta, o governo precisa pagar cerca de US$ 20 bilhões da dívida que vencem ainda este ano.
Mesmo com a antecipação de mais uma parcela do empréstimo do FMI, o estrangulamento financeiro é um temor constante.
O embaixador do Brasil em Seul, Sergio Barbosa Serra, envia relatórios diários a Brasília em que a possibilidade de moratória ainda neste ano é mencionada.
O máximo que se pode afirmar sobre a eleição de depois de amanhã é que dela emergirá um presidente que governará com pouco mais de um terço dos votos.
E há o risco de o FMI ter errado o diagnóstico. A advertência, previsível num discurso oposicionista, foi feita pelo "Financial Times", que forma a opinião do mercado financeiro internacional.
Em editorial, o jornal afirma que o FMI não está acostumado a lidar com o problema de dívidas privadas, que é o caso da Coréia.
Medidas monetárias draconianas e política fiscal apertada vão enfraquecer ainda mais as empresas, diz o jornal.

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