São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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PSDB paulista ameaça romper com governo FHC

LUÍS COSTA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O tenso, distante e difícil relacionamento entre o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), e o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso passa por um novo momento crítico.
Autorizado por Covas, e a pedido do diretório paulista do PSDB, o presidente do partido no Estado, Antônio Carlos Mendes Thame, envia até sexta-feira uma carta a FHC e ao ministro Pedro Malan (Fazenda) reclamando do tratamento federal dispensado a São Paulo e pedindo a urgente liberação de R$ 145 milhões para que sejam reformados diversos vagões de trens doados pela Espanha ao governo estadual.
"A situação é tensa, e o nosso relacionamento com o governo federal -principalmente a área econômica- está esgarçado e próximo do rompimento. Pedimos pouca coisa para viabilizar bons investimentos no Estado, e o ministro Malan nos impõe dificuldades. Isso é administrativamente errado, porque o Covas saneou São Paulo, e politicamente injusto, porque ele sempre foi um aliado fiel", protestava ontem Thame.
Foi o governador Mário Covas quem levou seu partido a reagir tão fortemente contra o governo.
Ontem, ele cobrou do ministro tucano Antonio Kandir (Planejamento) os critérios federais para a concessão de empréstimos a administradores públicos.
"A prioridade era sanear o Estado, saneei. Não criei dívidas novas e pago tudo em dia. O que mais querem?", perguntou ao ministro, durante solenidade no Palácio dos Bandeirantes.
A irritação de Covas, que cresce com o passar dos meses, teve um catalisador: informações vazadas dos ministérios da área econômica dando conta da liberação de um empréstimo de R$ 330 milhões do Banco do Brasil e outros R$ 70 milhões do BNDES para a Prefeitura de São Paulo, cujo prefeito Celso Pitta (PPB) é seu adversário político, e um empréstimo federal de R$ 1 bilhão para o governador do Paraná, Jaime Lerner (PFL).
"Dois pesos, duas medidas"
O inconformismo se alastra no PSDB. "Se o governo abrisse uma linha de crédito para todos os prefeitos de capitais renegociarem sua dívidas, tudo bem. Mas dar dinheiro para um prefeito cuja administração sucede a de um amigo e correligionário (Paulo Maluf) que quebrou as finanças do município e agora precisa de dinheiro novo para pagar dívida velha, não pode e não deve", protesta o deputado José Aníbal (PSDB-SP).
Ontem, Aníbal conversou longamente com Covas e Kandir. Vai mais adiante: "Estão prometendo uma dinheirama para o Lerner, que em três anos de administração no Paraná não cortou a folha de pagamentos, associou-se a montadoras privadas de automóveis e fez uma gestão sofrível. O Mário Covas demitiu 135 mil funcionários, enxugou a máquina, privatizou e está privatizando estatais e não consegue receber trocados para fazer investimentos. São dois pesos e duas medidas", considera ele.
Outra reclamação de Covas é a demora do Ministério da Fazenda em liberar a assinatura de um contrato do Estado de São Paulo com um conjunto de bancos japoneses para que se iniciem as obras de recuperação do rio Tietê.
Um convênio inicial foi firmado em 95, no início de seu governo, e até hoje não saiu do gabinete do ministro da Fazenda.
"Mesmo que o Malan assine tudo agora, a obra será feita mediante concorrência internacional, e o ano de 98 será gasto em trâmites burocráticos. É uma lástima, uma lástima que ata as nossas mãos", diz Mendes Thame.
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria comentar a carta do PSDB paulista porque não conhecia o texto. Até aquele horário, ele não havia recebido a carta e nem sabia de sua existência.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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