São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Won sobe em 1º dia de livre flutuação

Moeda tem alta de 9%

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

O mercado financeiro internacional reagiu bem à decisão da Coréia do Sul de eliminar o sistema de banda cambial, deixando o won, a moeda nacional, flutuar livremente.
Ontem, o won voltou a subir, fechando com alta de 9% em relação ao dólar, negociado a 1.425 wons. A Bolsa de Valores de Seul (capital) foi atrás e teve ganho de 4,8%.
A decisão, tomada na segunda-feira à noite e em vigor desde ontem, acabou com o limite de 10% de variação diária, para cima ou para baixo.
É o tipo de iniciativa que agrada ao Fundo Monetário Internacional, que preza a transparência das operações financeiras.
O sistema anterior teve vida curta. Foi introduzido em 20 de novembro, quando já estava claro que o país enfrentava sérias dificuldades econômicas.
Até então, o piso e o teto do câmbio eram de 2,25%, mas os investidores internacionais pressionaram por uma fórmula que acomodasse melhor a grande demanda por moeda forte.
O limite de 10% evitou uma catástrofe cambial na semana passada, quando o won sofreu desvalorizações seguidas, sempre interrompidas quando a cotação batia no teto de desvalorização.
A iniciativa do governo ocorre num momento em que a situação aparentemente voltou a se estabilizar.
Nos últimos dois dias, o limite até brecou a recuperação dos mercados financeiros, que poderia ter sido maior se a situação do câmbio fosse livre.
A premissa do governo, endossada por alguns analistas, é de que o pior já teria passado e que o novo sistema ajudará a atrair os dólares necessários para pagar compromissos externos de curto prazo.
A estratégia do governo começou dando resultado positivo, mas é considerada arriscada.
Se houver um revés e a crise de confiança dos investidores internacionais voltar a se manifestar, o won pode sofrer um colapso total, pois não há mais rede de proteção para a moeda.
A melhora das condições financeiras da Coréia está relacionada à volta das grandes corporações ao mercado de câmbio.
As empresas estariam começando a captar dólares e a rolar suas dívidas depois de semanas em que o fluxo de capital estrangeiro esteve paralisado.
Se os dólares continuarem entrando no país, fica afastada por enquanto a possibilidade de moratória.
A Coréia tem uma concentração de empréstimos vencendo até o final do ano e não tem reservas para pagá-los, dependendo, portanto, da captação de mais recursos externos.
Parte do dinheiro acabou entrando devido à própria desvalorização do won, que perdeu, do começo do ano até a semana passada, mais de 50%.
Com isso, as exportações ficaram mais competitivas e o país registrou, em novembro, o primeiro superávit em quatro anos nas contas correntes.
O resultado, superávit de US$ 600 milhões, compara-se com o déficit de US$ 680 milhões no mês anterior e de 2 bilhões em novembro do ano passado.
A mudança da perspectiva cambial a curto prazo não sinaliza melhora da situação econômica.
Pelo contrário, analistas que estavam prevendo crescimento mais lento estão agora projetando estagnação ou recessão para o próximo ano.
A corretora Salomon Smith Barney acha que a economia não cresce mais do que 0,6%, quando previa 3% há poucos dias.
A Morgan Stanley acredita em recessão, com a economia se contraindo em 1%.
Nas últimas três décadas, o país cresceu à taxa anual média de 8%.
Esse é o cenário que aguarda o novo presidente da Coréia, que será eleito amanhã.

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