São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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O divórcio barulhento do Windows e do Internet Explorer

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

A Justiça americana fez cócegas no pé do gigante na semana passada. Ordenou que a Microsoft separasse o navegador do sistema operacional e tratasse de não obrigar os fabricantes de computador a incluir o Explorer em suas máquinas. A Microsoft e o Departamento de Justiça vinham se digladiando em torno de uma questão quase só semântica nas últimas semanas.
A empresa dizia que o InternetExplorer era parte integrante de seu sistema operacional, o Windows, e portanto tinha todo o direito de pressionar os fabricantes de computador a incluí-lo -e não o Netscape- em suas máquinas. A Justiça dizia que não, que o navegador era uma aplicação independente que a Microsoft queria enfiar goela abaixo das manufaturas, abusando de seu poder de fogo. A Compaq e a Gateway deram seu testemunho, dizendo que sim, fomos pressionadas.
Por trás dessa questão simples, está toda a estratégia da Microsoft -ninguém consegue mais de 90% do mercado sendo bonzinho. A empresa vai amarrando numa cadeia sem fim todos os componentes de software ao sistema operacional. Consumidores e desenvolvedores acabam por entrar nessa ciranda. O desenvolvedor usa as ferramentas de programação da empresa e desenvolve programas cada vez mais ligados ao Windows. O comprador acaba escolhendo o mais fácil: comprar os programas desenvolvidos para o Windows.
A Microsoft ia aplicando a mesma lógica ao Explorer. Ele estaria tão invisivelmente ligado ao Windows que mal se distinguiriam um do outro -e não deixariam espaço para outros navegadores. Seria uma maneira de transformar o Explorer em condutor para tecnologias da empresa (áudio, vídeo etc.) e também para conteúdos predeterminados, como os "canais" de programação do Windows 98. Foi aqui que o plano da Microsoft deu nó. A vedete do Windows 98 vem sendo a tal integração com a Web. Sejamos sinceros, não há mais tanto o que inventar no Windows.
Vão aparecer uns fundos de tela e musiquinhas novos, algumas funções com cara de novas e acabou. A Microsoft colocou todas as suas fichas de marketing na fusão do navegador com o sistema operacional, para que o produto tivesse pelo menos cara de novo.
Caiu num beco sem saída. Se a grande novidade do Windows 98 era a fusão com o Explorer, como ele já estaria fundido ao Windows 95?
Por outro lado, não deixa de ter um gostinho de ironia a tentativa de transformar o Windows numa Web pessoal. Quem viu sabe: o Windows 98 deixa o computador com cara de navegador. O gerenciamento de arquivos pode ser feito numa janela igual ao do Explorer, todas as pastas podem ser acessíveis por links de hipertexto. O que isso quer dizer? Que a Microsoft prefere uma linguagem gratuita e popularizada por um concorrente (primeiro o Mosaic e depois o Netscape) à interface com que tentou nos acostumar durante anos e anos -as pastinhas, diretórios e nomes de arquivos. É possível que esteja certa, e que, para as próximas gerações que começarem a usar computadores, seja ótimo que o sistema operacional e os programas de navegação tenham a mesma estrutura. Mas que tem ar de derrota, isso tem.
As vantagens de mudar para o sistema são poucas. É preciso se acostumar com a nova lógica -o que não é difícil para quem usa a Web. Depois, com o fato de que, embaixo da nova maquiagem de hipertexto, ainda existem as estruturas em árvore do programa. No melhor estilo Windows, a interface nova apenas encobre o sistema velho. O consumidor acaba pagando pelo marketing.

E-mail: netvox@uol.com.br

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