São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Paloma Amado resgata as frutas do pai

NINA HORTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Já está chegando às livrarias o livro de Paloma Amado, filha de Jorge Amado e Zélia Gattai. O nome é "As Frutas de Jorge Amado ou O Livro das Delícias de Fadul Abdalla".
A idéia geral do livro é simples. São 61 capítulos, 14 com receitas gerais de bebidas, refrescos, doces, sorvetes, saladas, e 47 só das frutas em ordem alfabética.
Na margem esquerda, há indicação dos nomes dos livros de Amado em que a fruta aparece. Mais abaixo, os modos e maneiras possíveis de transformá-la: gelatina, suco, vitamina.
Também há o nome científico, importantíssimo e tão esquecido nos livros de cozinha brasileiros, e mais as calorias.
Segue-se o texto propriamente dito, respondendo à pergunta -o que Jorge Amado dá de comer e beber aos seus personagens? Falando de frutas, é claro.
Jorge Amado fala bastante delas, dos seus roxos, amarelos e dourados, das consistências, dos seus jeitos. O prazer sensual vem sempre ou quase sempre em primeiro lugar. Fruta. Do latim fruor, usufruir, fruir, fruta, ter prazer?
Fruto do trabalho e do suor do rosto só o cacau. O resto são histórias de mangas sumarentas escorrendo por peles morenas. Da jaca que de tão boa seduziu dois homens que se distraíram de uma mulher de narinas frementes.
Paloma Amado conhece os personagens de seu pai como se fossem parentes. É tudo uma gente só, as Tietas e Gabrielas descalças entrando em casa, e os de carne e osso se infiltrando pelo livro. Os araçás são de "Tieta", o cacau é de "Tocaia"; Jorge Amado gosta de banana da terra.
Fechando o capítulo, vem a receita preferida. Não são só brasileiras. Paloma adora as comidas do Brasil, mas não se nega a receitar um guacamole com o abacate, um camarão com abacaxi e cogumelos (!), um suflê de chocolate, um doce de cajarana da Ilha de Reunião, um curry de caju, farofa de coco da Indonésia, bife de vitela com goiaba, kir royal de jabuticaba, sorvete de grapefruit com Campari.
Claro que tem brasileirices radicais como a jenipapada, o doce de limãozinho do Piauí (humm!), a frigideira de mamão verde, o pudim de sapoti.
E, se você não gosta de cozinhar, compre o livro por causa dos nomes das frutas. É um bocado do tempo perdido, um mapa de nossos quintais, o inconsciente coletivo brotando nas notas ácidas do araçá, acerola, uvaia, cajá, pitanga, tamarindo.
Nos doces toques do mingau generoso da banana, fruta-pão, jaca mole, manga e mamão. E na surpresa amarga da juru-juru-jurubeeeeeba!!!!...

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