São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Comdex 97 é caça ao tesouro em Vegas

BILL GATES

No final de novembro, eu e quase um quarto de milhão de outras pessoas invadimos Las Vegas para visitar a feira de informática Comdex em busca de tecnologias interessantes.
A Comdex é uma caça ao tesouro que oferece uma gama estonteante de inovações que chamam a atenção -cerca de 10 mil novos produtos estavam expostos.
Você deixa de ver muito mais do que consegue ver. É divertido topar com amigos e descobrir o que eles encontraram de interessante.
Tela plana
Ciente do meu interesse por monitores de tela plana, uma pessoa sugeriu que eu visse a fantástica qualidade de imagem do monitor ViewSonic VP204 View Panel.
Esse monitor, que tem apenas algumas polegadas de espessura, mas uma tela de 18 polegadas, mostra imagens ótimas de qualquer ângulo -mesmo quando se olha na lateral.
Ele ainda não se encontra à venda, mas, em meados de 1998, mais ou menos, já deverá ser encontrado nas lojas dos Estados Unidos por um preço aproximado de US$ 6.000.
Poucas pessoas vão se dispor a pagar tudo isso por uma tela, mesmo que seja tão boa que possa ser pendurada na parede, como se fosse uma foto.
Mas, com os preços dos produtos de alta tecnologia em queda livre, não vai demorar muito para termos ótimas telas planas, de grande dimensão, por preços razoáveis.
Quando esse dia chegar, a face da computação de hoje vai mudar. Os volumosos monitores (e televisores) de hoje vão perder espaço.
Além de várias telas planas impressionantes, alguns dos produtos que chamaram minha atenção incluíram discos rígidos de 18 Gbytes, capazes de conter todas as fotos de uma vida na palma da mão, laptops potentes com menos de uma polegada de espessura e uma caneta Cross com a qual seu computador pode "ler" -ou pelo menos tentar ler- o que você escreve a tinta, desde que você coloque uma chapa eletrônica especial debaixo do papel.
Nova estrutura
Esses produtos evolutivos figuraram ente os milhares de outros expostos por mais de 2.100 empresas, todas participando da Comdex porque queriam que o mundo visse como suas invenções podem aperfeiçoar o PC.
Nos bons e velhos tempos, umas três décadas atrás, a indústria estava estruturada de maneira inteiramente diferente. Não havia muitos tesouros para caçar.
Se você fosse uma empresa independente que criasse um aperfeiçoamento no disco, azar o seu, porque a IBM e a DEC fabricavam seus próprios discos.
Se você inventasse uma tela nova, azar o seu, também, porque as grandes empresas cuidavam, elas mesmas, dessa parte.
Apenas alguns poucos componentes do computador podiam ser encontrados separadamente, e o software em geral não era um deles.
As escolhas eram limitadas e caríssimas.
Era do PC
Hoje, na era do PC, qualquer empresa pode contribuir com qualquer coisa.
O sistema operacional em evolução constitui um quadro com o qual fica fácil para as empresas misturar suas inovações às das outras e produzir inovações semelhantes. Só o mercado pode rejeitar uma idéia.
O resultado disso é a especialização, o foco concentrado e um ritmo emocionante de evolução de produtos, da parte de milhares de companhias que competem em um mercado que já representa volumes imensos.
Isso gera incontáveis avanços inesperados. É o caso, por exemplo, dos cartões de PC (antes conhecidos como cartões PCMCIA).
Os computadores laptop têm fendas nas quais o usuário pode inserir esses cartões eletrônicos, do tamanho de cartões de crédito.
Inovação em miniaturas
Como as fendas foram projetadas para modems miniaturizados que conectam o laptop à linha telefônica, não chega a surpreender que vários modems inovadores tenham sido expostos na Comdex, em Las Vegas.
O que surpreende, porém, são todas as outras coisas que as empresas de espírito empreendedor andam fazendo com esses cartões.
Há alguns anos, quando foi desenvolvida a especificação para os cartões de PC, ninguém imaginava que os cartões seriam usados para armazenagem de dados em massa.
Mas, na Comdex, uma empresa chamada SanDisk mostrou cartões capazes de armazenar 220 Mbytes de dados -mais de um terço da capacidade de um CD-ROM- sem peças móveis.
Outras empresas fabricam minúsculos discos mecânicos.
A Iomega expôs um disco rígido do tamanho de uma caixa de fósforos. Ele se chama Clik e tem capacidade para armazenar 40 Mbytes de dados -mais ou menos o equivalente à capacidade de 22 disquetes de alta densidade.
Diversidade
É claro que nem todos os produtos legais que vi na Comdex eram minúsculos.
O Philips 3.610 CD Rewritable permite que você grave e regrave seus próprios CDs e CD-ROMs.
A Hitachi e várias outras empresas mostraram PCs que produzem impressionantes imagens em 3D.
Havia um novo PC da Acer, o NetPC, por US$ 800, que pode ser atualizado, com o acréscimo de um drive para disquete ou CD-ROM, para tornar-se um PC completo. Nenhum desses produtos era miniaturizado.
Mas outros lançamentos superinteressantes eram bastante pequenos.
A máquina fotográfica digital VE-LC2, da Sharp, que estará nas lojas a partir de fevereiro por US$ 499, pesa menos de 200 gramas, mas armazena até 120 imagens digitais.
Ela pode transmitir imagens, via link infravermelho, a um laptop ou a um PC equipado com infravermelho.
Micros portáteis
Os laptops de alta potência também estão diminuindo de tamanho.
O PCG-505, da Sony, pesa menos de 1,5 kg e tem menos de uma polegada de espessura, apesar de vir com chip Pentium 133 e monitor colorido de 10,4 polegadas.
O notebook Mitsubishi Pedion é ainda mais fino e mais potente do que a máquina da Sony, além de ter uma tela maior.
Achei seu teclado um pouco ruim de usar, mas muitas pessoas vão adorá-lo.
Tanto a máquina da Sony quanto a da Mitsubishi são feitas de magnésio, que é leve, forte e dissipa o calor.
Ambos os modelos já estão à venda no Japão e vão estar disponíveis nos mercados europeu e norte-americano no início de 1998.
Quando eu retornar à Comdex em novembro do ano que vem, esses laptops e outras inovações deste ano já serão notícia ultrapassada. Haverá ferramentas melhores, a preços menores. É a concorrência que torna essa indústria tão vibrante.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.

E-mail :askbill@microsoft.com

Tradução de Clara Allain.

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