São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Vitória contra o crime

GILBERTO DIMENSTEIN

A principal experiência contra a violência deixou de ser Nova York -especialmente para o Brasil, onde chegamos ao ponto de as autoridades policiais, como em São Paulo, recomendarem que as mulheres não saiam de casa sozinhas.
Próxima da realidade social das cidades brasileiras, Nova Orleans, ao sul dos EUA, era famosa pela alegria dos seus charmosos bairros históricos, cenário de jazz e carnaval.
Mas também pela violência que lhe deu o título de capital americana do crime; sua polícia era tida como a mais corrupta do país, metida com o tráfico de drogas.
Os assassinatos colocavam a cidade não num ranking das regiões mais violentas do país, mas do mundo; o dobro do nível de São Paulo. Perdia a cada ano levas de moradores à procura de sossego.
Nova Orleans está virando internacional porque este ano os roubos despencaram 33%; os homicídios, 22%.
Nenhuma cidade americana conseguiu apresentar tantos resultados em tão pouco tempo.
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Beneficiada pelo crescimento econômico do país, a cidade aproveitou a onda e se inspirou na experiência de Nova York.
Mapeou o crime, bairro por bairro, rua por rua. A cada dia esse mapa é atualizado nos computadores, orientando a prevenção e a repressão; ao ser implantado, esse monitoramento também teve efeito imediato em Nova York.
Tirou policiais de trás das mesas, colocou-os andando nas ruas. Fez uma limpeza nas delegacias corruptas e, ao mesmo tempo, aumentou salários. Ou seja, esbofeteou os pilantras e valorizou os honestos, reduzindo as chances de corrupção.
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Da conivência com a malandragem, a polícia aumentou o número de prisões. Subiu em 30% o número de casos de homicídios esclarecidos.
Num gesto de desespero, implantaram o toque de recolher dos jovens. Dia da semana, se ficar na rua depois das 20h é detido; nos finais de semana, a tolerância vai até as 23h.
Num acordo com os empresários, eles tentam, agora, melhorar as escolas para melhorar o nível de emprego, especialmente dos jovens -um terço dos jovens de lá são analfabetos funcionais, incapazes de preencher pedido de emprego.
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PS - No Brasil, começaram a pedir que as mulheres não saiam de casa. Vão acabar pedindo, depois, que os homens também não saiam.
Por essa lógica, livre na cidade, andando pelas ruas, só vão ficar mesmo os marginais.

E-mail: gdimen@aol.com

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