São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Candidatos coreanos querem antecipar posse

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

É cada vez maior a pressão para que o presidente da Coréia do Sul, Kim Young Sam, transfira imediatamente o poder para o candidato eleito amanhã, cuja posse está prevista apenas para 25 de fevereiro.
Teme-se que o vácuo político de dois meses que se criará a partir de sexta-feira poderá agravar a profunda crise econômica do país.
Os três principais candidatos sugerem fórmulas em que o eleito começaria a governar antes mesmo de empossado oficialmente.
A proposta mais radical é a do candidato com menor chance, Rhee In Je, do Novo Partido pelo Povo, uma dissidência recente do partido governista.
Rhee sugere a demissão de todos os ministros e a formação de um gabinete designado pelo futuro presidente para enfrentar a crise.
A proposta é endossada pela influente Ordem dos Advogados da Coréia, que está liderando a campanha por uma solução rápida para a transição. Os dois candidatos com chances reais também não querem esperar até fevereiro.
A convivência entre o atual presidente e o futuro será ainda mais delicada se vencer o candidato da oposição, Kim Dae Jung, do partido Congresso Nacional para a Nova Política, que lidera as pesquisas com pequena vantagem.
O presidente, no auge de sua impopularidade, declarou que não vai se afastar antecipadamente e que, no máximo, trabalhará em conjunto com o presidente eleito.
O porta-voz da Casa Azul, a sede do governo em Seul, a capital, disse que a nomeação de um ministério não indicado pelo presidente é proibida pela Constituição. Uma possibilidade admitida pelo governo é a inclusão de pessoas de confiança do futuro presidente no conselho econômico de emergência, criado para lidar com a crise.
Na véspera de uma eleição totalmente imprevisível, os dois candidatos que estão virtualmente empatados jogam as últimas cartas.
Lee Hoi Chang, da situação, criou um slogan de última hora: "Vote pela estabilidade", pede o candidato do grande Partido Nacional, uma referência à turbulência que o principal candidato de oposição teria provocado no mercado ao fazer ressalvas sobre os termos do acordo com o FMI.
A dificuldade de Lee, o preferido da comunidade financeira internacional, é estar associado ao atual presidente, de quem foi primeiro-ministro há quatro anos.
Kim Young Sam, sem força política para aprovar as reformas que prometeu no início de seu mandato, assumiu publicamente toda a culpa pela atual crise financeira.
Kim Dae Jung, da oposição, aproveita a reta final para fazer campanha nas ruas de Seul e das cidades satélites, onde se concentra quase metade dos eleitores.
Kim, 74, é o mais velho dos candidatos e procura usar os comícios para mostrar que está fisicamente bem, o que é colocado em dúvida por adversários.
Político veterano, Kim, um social-democrata que com o tempo passou a aceitar a tese do neoliberalismo, vai tentar pela quarta vez se eleger presidente.
O pacote de ajuda do Fundo Monetário Internacional, de US$ 57 bilhões, acertado no início do mês, coloca os principais candidatos em situação delicada.
Eles foram levados a assinar um documento em que se comprometem a aceitar os termos do empréstimo, mas ao mesmo tempo não dizem como vão implementar as medidas necessárias.
A razão do silêncio é que as medidas são muito impopulares.

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