São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Tucanos de SP cobram FHC em carta dura

LUÍS COSTA PINTO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Os termos usados na carta enviada ontem pelo presidente regional do PSDB de São Paulo, Antonio Carlos Mendes Thame, ao presidente Fernando Henrique Cardoso são duros.
O método que ele escolheu para fazer seu recado chegar ao presidente da República foi simbólico: frio, distante e impessoal.
Na carta, endereçada a Fernando Henrique e entregue ontem por um mensageiro na residência paulistana do ministro Clóvis Carvalho (Casa Civil), Thame chama os ministros de "funcionários de segundo escalão" e afirma que há descaso dos órgãos federais com o Estado de São Paulo.
Citando a convenção estadual do partido ocorrida no último domingo, na qual foi eleito presidente regional do diretório do PSDB -em cuja jurisdição o próprio Fernando Henrique está inscrito nas fichas partidárias-, Mendes Thame diz que há um clima de insatisfação "nas bases do PSDB" contra o governo federal.
'Segundo escalão'
Thame escreveu que há "um esfriamento das relações do diretório paulista do partido com o Palácio do Planalto" e pediu: "É necessário acabar com o descaso dos órgãos federais de segundo escalão para com o Estado de São Paulo".
Esses órgãos de "segundo escalão" aos quais se refere são os ministérios da Fazenda e do Planejamento, comandados respectivamente pelos economistas Pedro Malan e Antonio Kandir, e que vêm dificultando operações financeiras do governo estadual no exterior.
As duas principais: o governador Mário Covas (PSDB) deseja um aval federal para gastar R$ 145 milhões dos cofres do Estado reformando trens elétricos doados pelo governo da Espanha e espera outro aval do Ministério da Fazenda para que possa receber um empréstimo de bancos japoneses, destinado à despoluição do rio Tietê.
Merecimento
"As reivindicações do governador de São Paulo devem ser atendidas sem óbices interpostos pelos órgãos de segundo e terceiro escalões do governo simplesmente porque elas são administrativamente merecidas", reivindicou o dirigente tucano na carta entregue por seu intermediário ao portador presidencial, o ministro Clóvis Carvalho.
O PSDB de São Paulo rebela-se contra a burocracia federal comandada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso porque enxerga tratamentos diferenciados da área econômica para com Covas, seu colega paranaense Jaime Lerner (PFL) e o prefeito da capital paulista Celso Pitta (PPB).
O déficit do caixa estadual de São Paulo era de 17,9% quando Mário Covas assumiu o governo, em janeiro de 95, e fechará o ano de 97 em apenas 0,01%.
A dívida da prefeitura paulistana era de R$ 993 milhões quando Paulo Maluf (PPB), ex-prefeito, correligionário de Celso Pitta e adversário do PSDB nas eleições para governador do Estado no próximo ano deixou o cargo, em janeiro passado.
Esta dívida cresceu, em 12 meses, para R$ 1,62 bilhão. O governador não consegue avais federais para obter empréstimo no exterior ou pagar reformas em trens que lhe foram doados.
O governo federal tomou uma decisão, anteontem, permitindo que o endividado prefeito de São Paulo recebesse R$ 330 milhões emprestados pelo Banco do Brasil.
Palanque de 98
"A finalidade da carta é deixar claro para o presidente que há um afastamento nosso em relação a ele e há diferenças óbvias entre a gestão séria do Covas à frente do Estado e a administração nebulosa do Celso Pitta na prefeitura", diz o presidente regional do PSDB.
"Queremos alertar o presidente agora, porque ainda há possibilidade de reverter esta situação antes de armar os palanques de 98, para que ele evite a irreversibilidade desse clima de insatisfação que contaminou o PSDB paulista", afirma Thame.

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