São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Onde prospera o emprego no Brasil

WALTER FELDMAN

Em meio à crise pela qual passa o Brasil -grande parte dela gerada a partir dos problemas nas Bolsas asiáticas-, muitos deixaram de notar o estabelecimento do fundo de aval às micro e pequenas empresas.
A medida, proposta pelo governo e relatada no Congresso pelo senador tucano José Roberto de Arruda, terá seus recursos oriundos de parte das contas inativas do INSS -em geral de pessoas que possuíam dois ou mais benefícios, em flagrante delito.
Nos números divulgados pelo governo, serão cerca de US$ 300 milhões como incremento ao setor para que exporte seus produtos. De acordo com Joseph Couri, presidente do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo), tal cifra trará de volta ao Brasil, como lucro, mais de US$ 3 milhões.
É de perguntar, então: por que no país não se criam mais incentivos a um setor cuja empregabilidade só tem crescido, a despeito das cíclicas crises brasileiras?
Alguns dados coletados junto a publicações e institutos, nacionais e internacionais, só reforçam nossa tese. De acordo com a conceituada revista americana "Fortune", nos Estados Unidos, entre 80 e 83, as 500 maiores empresas demitiram 5 milhões de empregados. Entre 87 e 92, os novos empregos na economia americana surgiram em empresas com até 19 empregados (78%) e em empresas com até cem empregados (22%).
É de lembrar que os americanos vivem, atualmente, o maior esplendor econômico de seu já longo império, não dando mostras -como exibem as últimas notícias do Fed, o Banco Central dos EUA- de fastio ou de decadência. O desemprego deles alcançou a fantástica cifra de 4,5%, para a média de 11% de seus sócios no G-7.
No Brasil, verifica-se a mesma tendência. De acordo com dados da CNI, entre 89 e 96, a força de trabalho na indústria brasileira caiu de 22% para 18,2%, ou menos 1 milhão de empregados.
Em São Paulo, onde se encontra o maior parque fabril do país, os números, segundo a Fiesp: em 95, menos 6,67%, ou 142 mil empregos; em 96, menos 7,53%, ou 149 mil; neste ano, até setembro passado, menos 69 mil. Ou seja, no período, um total de menos 360 mil vagas entre as médias e grandes indústrias.
No entanto, entre as micro e pequenas indústrias, segundo dados divulgados há pouco pelo Simpi, de janeiro de 94 a maio de 97, ocorreu um aumento de 8% na oferta de empregos, de 787 mil para 850 mil empregados dentro do setor.
Isso significa que, enquanto as maiores corporações se encontravam em dificuldades, ou apenas promovendo ajustes, as menores indústrias viviam bons momentos, aumentando seu índice de empregabilidade.
Ainda segundo o Simpi, estima-se que cada nova empresa ocupe cinco pessoas, entre sócios, empregados e empregos indiretos. No universo brasileiro, existem cerca de 2,5 milhões de empresas formais, além de 1 milhão de informais. Do universo medido, 98% são micro e pequenas (com até 99 empregados), sendo responsáveis por 60% do emprego e por 42% dos salários pagos.
Muitos dos analistas internacionais acreditam que a Coréia do Sul deva superar logo seu problema econômico, em função do número de suas micro e pequenas indústrias. No seu universo, são 92%.
Como no Brasil, boa parte delas trabalha no modelo terceirizado, fornecendo peças e instrumentos para os megaconglomerados econômicos. Ou seja, também na Coréia a maior empregabilidade se encontra nas micro e pequenas empresas.
No Brasil, as perspectivas ainda não são boas para o setor, porém começam a trazer melhoras. A política industrial, de uma forma abrangente, não favorece o segmento, já que os organismos financeiros utilizam um modelo bancário que não facilita o crédito produtivo e de melhoria de tecnologias, beneficiando assim somente os megaconglomerados, que conseguem dar imensas garantias.
O fundo de aval proposto há pouco pelo governo brasileiro, como incentivo às exportações, é um início animador. Como possuem estruturas pequenas, as micro sempre encontram maneiras criativas de superar as crises, salvando muitos empregos e famílias.
Incentivar as micro e pequenas possui, ainda, um sentido social, além de seu valor econômico. Nos anos 70, a Itália, em meio a uma grande crise econômica e às voltas com grupos terroristas, que prosperavam graças ao alto desemprego, optou por apoiar a política de micro e pequenas empresas, dando condições a trabalhadores para que abrissem seus próprios negócios.
O resultado é uma economia próspera, experimentando um crescimento contínuo há mais de 20 anos, além de ter resolvido seus sérios problemas sociais.
O Brasil possui também graves problemas de distorções sociais, que poderiam ser sanados com um maior incentivo às micro e pequenas empresas. Neste momento de crise, essa seria uma das saídas. Como gostam de dizer os economistas, os números não mentem.

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