São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997 |
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CD é 'Paris, Texas' do Saara
LUIZ ANTÔNIO RYFF
É uma mescla do "blues de raiz" de Cooder -um branco de alma negra- com a tradição africana de Touré. E poucas misturas deram tão certo. E, apesar do que ele diz, tem nítidos pontos em comum com o blues -como uma certa estrutura repetitiva ou mesmo temática. O melhor exemplo é "Amandral", em que Touré canta a história de um homem que viaja para ver seu amor, mas não pode entrar em sua casa e canta para que ela possa ouvi-lo enquanto ele tenta encontrá-la. E ainda há um solo de slide de Cooder -que já foi convidado de honra de alguns discos dos Rolling Stones. A música não seria muito diferente se tivesse sido feita por John Lee Hooker. Ou na excelente "Diaraby": "Seu pai, mãe e amigos dizem que não podemos nos casar porque eu sou duro, mas é você que eu amo". Totalmente blues. Na maioria das vezes o resultado de "Talking Timbuktu" é hipnótico e delicado, como em "Soukoura", uma música de amor cantada em bambara. Inspirado pelos Djinn, os espíritos do rio Níger, Touré canta em nove línguas ou dialetos. Em "Talking Timbuktu" ele usa quatro: o peul, o sonrai (etnia da qual faz parte) e o tamashek, além do bambara. E o clima do deserto está sempre presente. Como em "Sega", em que Touré toca njarka (espécie de violino do norte da África), acompanhado por congas e calabash. "Talking Timbuktu" é a trilha sonora que "Paris, Texas" teria se Wim Wenders tivesse rodado seu filme no deserto do Saara e não na aridez texana. (LAR) Disco: Talking Timbuktu Artistas: Ali Farka Touré & Ry Cooder (com participação de Clarence "Gatemouth" Brown, Jim Keltner e John Patitucci) Lançamento: Paradoxx Quanto: R$ 18, em média Texto Anterior: Blues do deserto Próximo Texto: Dez africanos que fazem o mundo dançar Índice |
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