São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
Próximo Texto | Índice

O NÓ GLOBAL É O JAPÃO

Talvez porque o noticiário econômico esteve, nos últimos meses, mais concentrado em países como Tailândia, Indonésia, Malásia, Hong Kong e, recentemente, na Coréia do Sul, ficou até certo ponto fora de foco o fato de que é o Japão o verdadeiro nó da questão internacional.
Se a crise japonesa se aprofundar, aí sim os efeitos sobre o restante do planeta tenderão a ser dramáticos. Quando se sabe que, antes mesmo de a crise atingir a Coréia, o governo brasileiro se viu obrigado ao gesto extremo de duplicar a taxa de juros, é de se imaginar o dano que pode ser causado por um eventual desastre japonês. É claro que, hoje, ninguém se anima a prever o que ocorrerá no Japão no futuro próximo. Mesmo assim, é preciso realçar alguns aspectos que fazem com que o caso japonês tenha uma importância especial.
Primeiramente, o fato óbvio: o Japão é a segunda economia mundial. Qualquer crise séria em uma potência desse porte repercute muitíssimo mais do que as dificuldades na Tailândia ou na Coréia do Sul.
Mas há outro aspecto fundamental: mais de um terço de toda a poupança mundial está em mãos japonesas. O economista-chefe do Deutsche Bank, Kenneth Courtis, chega a calcular que "as poupanças dos lares japoneses são tão maciças que, juntas, equivalem a quase o dobro do PIB anual norte-americano".
É por isso que o governo dos EUA vem exercendo pressão forte, embora discreta, sobre o governo do Japão para evitar que decida vender os títulos do Tesouro norte-americano em poder dos japoneses, os maiores credores do planeta.
Há hoje um consenso entre analistas do cenário internacional de que uma venda em massa dos papéis detidos pelos japoneses jogará o mundo em uma recessão tão mais profunda quanto maior for a venda. É o que basta para demonstrar quanto está em jogo na crise japonesa e por que ela se transformou na chave para um desenlace mais ou menos turbulento da crise em curso.

Próximo Texto: A POUPANÇA E OS MUTUÁRIOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.