São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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A POUPANÇA E OS MUTUÁRIOS

A brutal elevação dos juros e as demais medidas recessivas tomadas pelo governo ajudaram a sustentar o real. Mas é sabido que elas também têm consequências negativas. A redução dos juros da TR (Taxa Referencial), assim como a decisão de manipular mensalmente o cálculo desse indexador, é uma das providências com as quais o governo procura agora remendar o tecido econômico onde ele ficou mais frágil.
A TR determina, de um lado, a correção das cadernetas de poupança e, de outro, os custos para quem deve ao Sistema Financeiro de Habitação. Assim, uma taxa muito alta premia o poupador, mas pune quem está pagando a casa própria. No patamar a que as taxas de juros chegaram no Brasil, cresceu muito o risco de inviabilizar o pagamento de débitos de longo prazo.
Além de diminuir um pouco a violência dos juros impostos aos mutuários do SFH, a redução da TR também ajuda a conter o crescimento de uma parte da dívida pública. Mas a TR tem alcance limitado. Continuam gravíssimos os desequilíbrios provocados por taxas básicas de juros que, já com a queda prevista para janeiro, ainda estarão em 38% ao ano, contra uma inflação de 4,1%.
Dessas taxas básicas derivam aberrações ainda maiores, como a cobrança de juros médios de 246% ao ano para compras no varejo e de 305% no cheque especial, segundo levantamentos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Quem produz enfrenta juros de 55% a 83% ao ano para financiar capital de giro.
No curto prazo, a principal consequência dessas taxas é conter o ritmo de atividade econômica. No longo prazo, além do risco de provocar insolvências, juros tão altos promovem uma enorme transferência de riqueza de devedores para credores.
O governo tem afirmado que se trata de uma situação emergencial. É verdade. Resta saber por quanto tempo a economia resistirá à tensão dessas medidas.

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