São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Lucidez, acomodação e a PM

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O comandante da Polícia Militar de São Paulo, coronel Carlos Alberto de Camargo, parece lúcido e bem-intencionado. Pena que a lucidez de suas análises comece a ser posta mais ao serviço do comodismo do que do policiamento.
O coronel acha, com razão, que só a polícia não resolve o problema da segurança pública. Pede educação, famílias estruturadas e opções de lazer. Perfeito. Mas países como os europeus, mais ou menos resolvidos nessas áreas, nem por isso dispensam uma polícia eficaz e fisicamente presente na rua, em doses adequadas.
Se o coronel pretende esperar que se resolvam os demais problemas que incidem sobre a segurança para começar a fazer a sua parte, será tarde demais.
O coronel diz, ainda, que policiamento ostensivo não inibe a criminalidade, apenas força-a a mudar de local de operação.
Uma avaliação, três problemas:
1 - Contraria a sua promessa, ao assumir o cargo, de um policiamento ostensivo mais abundante.
2 - Se é verdade que o criminoso migra, cabe aos chefes da polícia batalhar para que ela tenha recursos, materiais e humanos, para estar presente, idealmente, em todos os locais necessários.
Leva tempo? Claro. Mas ou alguém começa a fazê-lo já ou não se atingirá nem o ideal nem, ao menos, o possível.
3 - A criminalidade está mais presente onde há mais oferta de bens para serem roubados. Logo, se a polícia também estivesse presente nesses locais, com mais frequência, no mínimo reduziria o espaço de manobra dos criminosos. Não é o que ocorre hoje.
Por fim, o coronel revela desconhecer o psiquismo coletivo dos paulistas ou, ao menos, dos paulistanos. Tem razão ao dizer que a sociedade não deve chegar ao pânico, à paranóia. É tarde demais, coronel. Esse limite já foi atingido. E a PM, se sair das análises, por lúcidas que sejam, para uma ação mais eficaz, é parte fundamental do tratamento.

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