São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

No tempo das pulgas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Pior do que me preocupar com a gravidez da Xuxa e com o mau humor do Edmundo, é dar bola para a crise aberta na política paulista. Como carioca, não devia me meter onde não sou chamado. Mas a política aqui do Rio é tão ruim, tão compactamente ruim, que ela nem chega a ser assunto. Em São Paulo, cuja classe política se leva a sério e está no poder, pelo menos a situação é divertida.
Foi em São Paulo que um grupo de vestais abriu uma dissidência contra o fisiologismo do PMDB e criou um partido novo. Essas vestais logo se revelaram tão ou mais fisiológicas, tanto na voz ativa como na voz passiva.
Na voz ativa tivemos FHC abrindo verbas para Maluf e Pitta por conta de um apoio na reeleição. Na voz passiva temos o Covas reclamando que assim não dá, como entender que o governo federal faça tamanho carinho a adversários locais?
O interesse público é secundário. Importante é o dividendo eleitoral que um partido pode tirar ou negar a outro. O dinheiro da nação é manipulado com o objetivo de garantir (ou impedir) quem será isso ou aquilo no próximo governo.
As vestais que emigraram do velho PMDB já revelaram o desejo de ficar 20 anos no poder. Como conseguir esse objetivo com o presidente da República mandando abrir as burras nacionais para os adversários?
Na velha política mineira, havia um acordo de cavalheiros: todos se equivaliam, ninguém era bom nem mau, tudo dependia das circunstâncias.
Na política paulista grassa um maniqueísmo anacrônico. Outro dia, num debate em nível universitário, vi um professor babando de ódio quando alguém mencionou a possibilidade de Maluf ou Quércia voltarem ao poder. Afinal, há mesmo diferença entre um político e outro? Quando se usavam camisolas e havia pulgas incomodando o sono, era inútil tentar distinguir uma pulga de outra. Todas eram a mesma coisa.

Texto Anterior: Minas Gerais em 98
Próximo Texto: Caminhos de Natal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.