São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Vida em Seul já mostra sinais de recessão

DO ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Num percurso de 18 quilômetros, do aeroporto internacional de Kimpo até o centro de Seul, conta-se meia dúzia de pontes em construção sobre o rio Han-gang, que corta a capital da Coréia do Sul, uma cidade cuja silhueta é dominada por guindastes e esqueletos de prédios sendo levantados.
Esse é o ponto mais visível do gigantesco setor de construção civil da Coréia, que movimenta US$ 50 bilhões por ano, e que será afetado pela recessão prevista para o próximo ano no tigre asiático.
Um relatório do Instituto de Pesquisa Hyundai prevê queda de 4,6% nas encomendas.
As construções privadas diminuirão 10%, o que não será compensado pela alta de 3% no setor público.
Qualquer que seja a estatística coreana para o próximo ano que se observe haverá ao lado um sinal negativo.
O Banco da Coréia, banco central, já está admitindo que, em vez de expansão lenta prevista após o acordo com o Fundo Monetário Internacional, o país provavelmente terá recessão a partir do próximo ano.
Os termos do acordo com o FMI, em contrapartida a um pacote multilateral de ajuda de US$ 57 bilhões, exigem um crescimento máximo de 3% em 1998, mas acredita-se que o resultado ficará muito aquém desse teto.
A projeção mais pessimista é de retração de 2,9% do PIB (Produto Interno Bruto), mas a maioria trabalha com um cenário de estagnação ou recessão de até 1%.
A recessão na Coréia terá de ser profunda o suficiente para manter a inflação em no máximo 5%, patamar atual e que consta das exigências do FMI para 1998.
O problema maior é que a desvalorização da moeda nacional, o won, dobrou o preço das importações, muitas delas indispensáveis para o país continuar sobrevivendo. No ano, a desvalorização foi da ordem de 50%.
O preço do petróleo importado, por exemplo, subiu imediatamente e no final de novembro foi repassado aos consumidores. Ontem, entrou em vigor o novo preço para o gás, com alta de até 28%.
Donas-de-casa, prevendo que logo a alta de preços chegará aos supermercados, correram para fazer estoque para o Natal.
A pressão sobre os preços será intensificada com a alta dos impostos. A partir de janeiro, a taxa sobre a venda de gasolina subirá 4,8% e a tarifa elétrica aumentará em média 6,5%.
Todos esses aumentos de preços pressionaram a inflação nos próximos meses. O índice só não subirá se houver pressão em sentido contrário provocada pela recessão.
Natal fraco
As previsões de recessão são para o próximo ano, mas os sinais de que a economia coreana está rodando em falso já apareceram.
No comércio, as semanas que antecederam o Natal foram marcadas por descontos de até 50% para tentar estimular as vendas -e nem assim os lojistas foram bem-sucedidos.
As vendas de roupas, por exemplo, que são responsáveis por mais de 60% do movimento das lojas de departamentos, caíram 35% em relação ao mesmo período do ano passado.
O comércio só vende fácil para os turistas estrangeiros, que têm dólares para trocar. Para eles, o colapso cambial do won significa desconto adicional de 50% sobre as promoções locais.

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