São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Corretor vive na casa onde casal foi morto

ALEXANDRE POSSENDORO
DA FOLHA CAMPINAS

O corretor de imóveis Márcio Ferreira da Silva, 26, foi o primeiro morador a ocupar a casa onde Antonia, 64, e João Pissardo, 74, foram assassinados em setembro de 94 pelo neto, o estudante Gustavo Pissardo (leia texto nesta página), em Campinas.
Primo de Pissardo e também neto do casal assassinado, Silva mudou com a família para o imóvel no ano passado. Até então, a casa estava vazia.
Silva afirma que, no início, "estranhava" um pouco o lugar, principalmente à noite. "Quando eu chegava e já estava escuro, entrava e trancava a porta rapidinho."
Apesar disso, Silva diz que, um mês depois de ir morar no local, não sentia mais nada. "Nem nos lembramos mais do que aconteceu", garante.
A casa fica na Chácara Primavera, bairro nobre da região norte de Campinas (99 km de São Paulo). Tem dois dormitórios, sala, copa, cozinha e dois banheiros. Ocupa um terreno de 1.300 m2.
Os moradores dizem que o imóvel ficou fechado por opção da própria família de Gustavo Pissardo, que herdou a casa. Na ocasião, diz Silva, a família não tinha cabeça para pensar em vender ou alugar o imóvel.
"A gente não se importou com o destino da casa. Depois de um tempo, nós estávamos pagando aluguel e resolvemos mudar para a casa e pagar aluguel para os parentes mais próximos de Gustavo", diz Silva.
Segundo ele, a família foi se esquecendo gradativamente dos assassinatos que ocorreram no local. Ele e sua família não pretendem deixar o imóvel.
"Há pessoas que não morariam em uma casa onde um casal fora assassinado. Mas nós estamos bem aqui", afirma.
Segundo ele, antes de entrar na casa, a mãe, católica, mandou benzer o local e montou um altar na sala, a pouco metros do local onde a avó de Pissardo teria caído, depois de levar um tiro na nuca.
"Mas ela faz isso em todas as casas em que nós moramos."
Mercado
A delegada-regional do Creci em Campinas, Rosimeire Zago, 38, disse que nunca, em seus 12 anos como corretora em Campinas, deixou de vender ou alugar um imóvel por crimes ou mortes que aconteceram no local.
"Em Campinas, antigamente, as famílias costumavam velar os mortos na sala de estar de suas casas. Elas não se importam se morreu ou não alguém ali", diz.
A corretora descartou uma possível desvalorização de imóveis onde ocorreram crimes.
Segundo ela, a principal preocupação de quem está comprando ou alugando diz respeito à segurança.
"Eles querem saber se acontecem muitos assaltos e se o imóvel fica em uma vizinhança segura. Isso, sim, valoriza ou desvaloriza. Os interessados se preocupam com a segurança do presente. Não com os crimes do passado."

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