São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Sob controle, até quando?

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Peter Hakim, diretor da Interamerican Dialogue, uma think-tank norte-americana, deu uma boa notícia ao embaixador Sergio Amaral na quinta-feira passada.
Ei-la: reunidos para discutir o pós-crash, dois analistas do FMI e três de Wall Street concluíram que a situação do Brasil está sob controle.
Segundo o relato, eles manifestaram confiança na política econômica e acham que o país está "caminhando para a normalização", porque o aumento dos juros e o pacote 51 vieram na hora certa e com o rigor necessário.
Deve-se descontar o ufanismo natural de um porta-voz da Presidência da República, mas essa avaliação não é tão desgarrada assim. Há outras na mesma linha e de diferentes origens.
É exatamente por isso que todo cuidado é pouco. Se o Brasil está apenas "caminhando para a normalização", deve começar a evitar tropeços a cada cinco metros.
ACM conquistou o abrandamento do IR. Políticos do Norte e Nordeste, o recuo na redução dos incentivos regionais. Depois, uma colher de chá para Jaime Lerner (leia-se: Estados) e mais uma exceção no pacote para Maluf e Pitta (leia-se: municípios).
Já que o próprio Executivo foi capengando daqui e dali, o Judiciário acabou dando a sua ajudazinha.
Na sexta-feira, o Supremo derrubou a MP que proibia a acumulação de aposentadoria proporcional e emprego. Volta tudo ao que era: quem se aposentar pode continuar trabalhando na mesma empresa, até ser demitido.
Com a aposentadoria ridícula que é paga no setor privado (em contraposição às somas fantásticas de alguns setores do serviço público), a decisão do STF faz até sentido.
O problema é que a ameaça das Bolsas não está afastada, há buracos de bom tamanho na estrada até a estabilidade e essas decisões do Congresso, do governo e do Judiciário só fazem piorar o horizonte.
O que todos deveriam fazer agora -e a oposição está demorando a entender isso- é centrar esforços na garantia do emprego. Vem aí o ano das eleições e do desemprego. Se o pacote fiscal furar, uma complica, o outro aumenta e tudo vira um bolo só.

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