São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997 |
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Operário que ficou impotente depois de ser torturado se mata
OTÁVIO CABRAL
Cruz tomou uma mistura dos medicamentos Gardenal e Diazepan e do amaciante de roupas Confort, em sua casa, na tarde de anteontem. Ele foi levado à Santa Casa de Votorantim, onde morreu por volta das 22h. O operário foi torturado na delegacia de Votorantim em 8 de maio de 1994, após ser preso em uma lanchonete. Após a tortura, ele precisou ser operado para retirar um testículo e ficou impotente. A família de Cruz tem certeza de que ele se suicidou devido às sequelas da tortura. "Ele disse que vinha tendo sérios problemas com a mulher porque não conseguia mais ter relações sexuais. Ele também tinha muitos problemas financeiros, pois foi aposentado por invalidez e não conseguia mais trabalhar", afirmou a advogada Selma Aparecida Moraes, que representa a família. Cruz tinha quatro filhos entre 4 e 14 anos e vivia de bicos. Antes da tortura, ele trabalhava em uma indústria química e recebia cerca de R$ 900. Atualmente, ele estava vivendo com pouco mais de R$ 200. Em reportagem publicada na Folha em 1º de janeiro deste ano, Cruz relatou os problemas causados pela tortura que sofria. "Hoje não tenho mais vontade de fazer sexo. Eu fui castrado pela polícia", declarou Cruz. O ouvidor da polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano, que acompanha o caso desde 1995, também associa o suicídio à tortura. "Não tenho qualquer dúvida de que o suicídio foi consequência da tortura. As sequelas da tortura chegaram ao limite máximo, tornando a vida dele insuportável." A tortura No dia que foi torturado, Cruz estava tomando cerveja quando três PMs entraram no local e o prenderam, alegando que ele estava "perturbando a ordem". Na delegacia, ele foi agredido com golpes de cassetete no pênis, nos testículos e no estômago. Após ser liberado, ele foi internado no Hospital Santo Antônio. Devido à agressão, ele teve o testículo esquerdo atrofiado e precisou retirá-lo. Após a cirurgia, Cruz ficou impotente e passou a fazer tratamento psiquiátrico. Cruz reconheceu um dos policiais, o segundo-sargento Antônio Carlos Viotto. Ele foi julgado pela Justiça Militar, considerado culpado pela agressão e condenado a um ano e dois meses de reclusão. Viotto recorreu da decisão e continua trabalhando no policiamento de rua em Votorantim. Texto Anterior: Risco de surra faz preso ficar em cela separada Próximo Texto: Condenado está trabalhando Índice |
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