São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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Coréia do Sul sofre novo colapso cambial

Relatório da Moody's provoca queda do won

OSCAR PILAGALLO
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

A aguda escassez de dólares na Coréia do Sul provocou um novo colapso da moeda nacional ontem.
O won, que já havia levado um tombo na sexta-feira, sofreu desvalorização de 10%, acumulando perda de 52% no ano e abrindo espaço para a queda livre.
É cada vez maior o temor da comunidade financeira internacional de que, sem moeda forte suficiente, a Coréia deixe de honrar compromissos internacionais, cujos vencimentos se concentram nas próximas duas semanas.
O que precipitou a desvalorização de ontem foi um relatório da Moody's, agência norte-americana de classificação de risco de crédito, que rebaixou a avaliação de bancos e empresas coreanas e de outros países da Ásia.
A divulgação do relatório reduziu ainda mais o fluxo de dólares para o país.
Moratória
Os bancos estrangeiros não estão mais emprestando e muitos não aceitam renegociar a dívida de curto prazo, empurrando o país para a moratória.
Keith Nam, diretor da corretora ABN Amro Govett Asia, disse à Folha que duas datas são cruciais para a Coréia. O fim do ano, quando vencem cerca de US$ 20 bilhões de dívidas, e o mês de março, quando os bancos japoneses fecham os balanços do ano fiscal.
Os bancos japoneses, que enfrentam graves problemas domésticos, provavelmente vão tentar reduzir a exposição ao mercado sul-coreano para poderem apresentar melhores resultados nos balanços.
A falta de liquidez está sendo contornada pelo Banco da Coréia, o banco central, que tem feito depósitos de dólares em agências estrangeiras e bancos coreanos para evitar o "default" (moratória) imediato.
Reservas
Mas o próprio governo admite que a situação não poderá ser mantida por muito tempo. As reservas internacionais do país estão em, no máximo, US$ 6 bilhões, apenas um terço do nível anterior à crise cambial.
Numa iniciativa que denuncia a enorme necessidade de dólares, o governo vazou a informação de que lançaria US$ 10 bilhões em bônus, 90% no mercado mundial.
A reação do mercado, que na semana passada rejeitou emissão de US$ 2 bilhões de um banco oficial da Coréia, foi de descrédito, principalmente por ter coincidido com o relatório da Moody's.
Para a agência, os títulos em dólares emitidos por empresas coreanas são "junk bonds", o que pode ser traduzido como moedas podres. Ou seja, dificilmente os investidores receberão o que está escrito no valor de face.
A situação cambial se agravou desde a eleição, na quinta-feira, do líder oposicionista, Kim Dae Jung, que tomará posse em fevereiro. Desde que o resultado foi anunciado, o won perdeu cerca de 20%.
No final do ano passado, um dólar comprava 844 wons. Ontem, comprava 1.715 wons, praticamente o mesmo nível de duas semanas atrás, quando o início do colapso cambial gerou temores de novo crash global.
No mercado financeiro de Seul, a capital, não se descarta a possibilidade de o patamar de 2.000 wons ser atingido em breve, talvez ainda antes do final do ano.
Sem liquidez
A desvalorização de ontem ocorreu apesar de a Assembléia Nacional ter aprovado legislação que permitirá que grande parte do dinheiro que circula na chamada economia subterrânea possa comprar títulos do governo, com os recursos sendo canalizados para financiar empresas.
O governo espera atrair US$ 1 bilhão com a medida, o que aliviaria a liquidez apertada que está paralisando a economia do país.
O colapso do câmbio não contaminou totalmente o mercado acionário.
A Bolsa de Valores da Coréia fechou com baixa ligeira de 4,13 pontos, em 396,06 pontos.

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