São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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Woody Allen diz que religião são 'idiotas'

MARIANE COMPARATO
DE PARIS

Parece que apenas Woody Allen consegue a proeza de reunir tantas estrelas em seus filmes. Em "Deconstructing Harry", que deve estrear no Brasil em fevereiro, desfilam Demi Moore, Billy Cristal e Elisabeth Shue.
Há também Robin Williams, que pode ser apenas 'notado': aparece cinco minutos, no papel de um ator que está fora de foco...
O filme conta a história de um escritor que, diz a crítica, tem muitos pontos de identidade com o cineasta. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Allen concedeu no hotel Ritz, em Paris:
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Pergunta - Nesse filme você passa rapidamente de uma cena para a outra, em vez de fazer longas cenas, como nos filmes precedentes.
Woody Allen - A história sempre influencia o ritmo do filme. Imaginei que essa história tinha de ser editada nervosamente, para mostrar como a vida de Harry era nervosa. E a ficção (as histórias que Harry escreve), pelo contrário, tinha de ter um ritmo calmo para mostrar que ele estava em casa criando.
Pergunta - Vários atores disseram que não conheciam o roteiro todo. Foi de propósito?
Allen - Eu ligo para um ator e digo: "Preciso de você por três dias". E eles aceitam. Aí eu mando a parte deles, que dá umas seis, sete páginas. Eles ficam felizes da vida por eu não mandar o roteiro inteiro (risos). Na vida real, você nunca sabe o que a outra pessoa está fazendo ou pensando.
Pergunta - É inevitável pensar que é um filme autobiográfico...
Allen - Algumas idéias que Harry tem são minhas. No caso, sobre mulheres e religião. Mas não vivo como Harry: não bebo, não tomo montes de remédios, nunca sequestraria uma criança, não chamo prostitutas em casa para me amarrarem... Quando estou pensando numa história, só fico imaginando uma maneira interessante, engraçada de retratar um personagem: na hora, não estou pensando em me descrever.
Folha - Você assiste aos seus filmes antigos?
Allen - Nunca assisti a nenhum deles. Seria uma tortura, eu ia ficar pensando: "Quero mudar isso, aquilo", e você não pode mais, porque o ator já morreu... Tenho outras idéias para executar... Quero, por exemplo, fazer um filme no qual a minha hostilidade escapa de mim e sai por aí fazendo coisas ruins e me envergonhando...
Folha - Você é religioso?
Allen - Eu? Não. Penso apenas intelectualmente na religião. Essas religiões estigmatizadas são máquinas de fazer dinheiro: as religiões judaicas, católicas, protestantes são totalmente desonestas. Um grupo que lhe diz que você não pode comer isso, não pode se casar com tal pessoa... Para mim, a religião judaica fala por todas as outras porque é a que conheço. Todas as religiões são idiotas.
Folha - O documentário "Wild Man Blues", que a diretora Barbara Kopple fez sobre a turnê da sua banda de jazz pela Europa, é bastante íntimo. Você estava à vontade para mostrar sua vida privada?
Allen - No começo, eu não entendi que ia ser desse jeito (risos). Depois, era tarde demais. Achei que fosse ser apenas nos bastidores dos shows. Mas aí ela dizia: "Deixa eu subir no avião com você". Eu ia dar uma volta sozinho no jardim e ela pedia para ir junto, como se de nada fosse, e o próximo passo era eu tomando café no meu quarto de hotel (risos). Gostei do resultado, acho que ficou bem próximo da realidade.

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