São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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Espanha tenta "recristianizar" Cuba

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

Pelo menos 13 bispos espanhóis vão a Cuba com o papa João Paulo 2º em janeiro próximo. Os religiosos que levaram o catolicismo à ilha, no século 16, voltam, no final do século 20, como prováveis pontas-de-lança da "recristianização" do país comunista.
João Paulo 2º chega a Cuba no próximo dia 21 de janeiro. Ele vai visitar o presidente Fidel Castro, intelectuais e religiosos cubanos. Inaugurará um santuário mariano e rezará missa na praça da Revolução, em Havana.
O papa encara a viagem como um dos marcos na nova evangelização que quer desencadear para o terceiro milênio.
O próprio presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Elías Yanes, arcebispo de Zaragoza, e o secretário-geral da organização, José Sanchez, bispo de Siguenza-Guadalajara, estão entre os que visitarão Cuba.
Outros bispos que participarão da visita são de dioceses que já têm missionários em Cuba.
Os espanhóis são uma boa escolha para servir de ponto de apoio do papa em Cuba.
Em primeiro lugar há a proximidade cultural. Foi a Espanha católica que moldou uma das bases da cultura cubana.
Em segundo lugar existe uma proximidade econômica entre os dois países. A Espanha é o país que mais investe em Cuba. Da indústria do turismo à mineração, há espanhóis trabalhando na ilha há muitos anos.
Aliada ao fato de que Cuba enfrenta um boicote econômico capitaneado pelos EUA, essa presença torna os espanhóis simpáticos aos cubanos.
Por fim, o papa pode estar querendo afastar de Cuba religiosos dos outros países latino-americanos, bastante marcados pela teologia da libertação.
O acordo que levou à visita do papa concede maior presença pública da igreja em Cuba. Neste ano o Natal será feriado, pela primeira vez desde a revolução (1959).
Para fazer frente à tarefa de ocupar mais espaço na vida cubana, a igreja precisará de sacerdotes e religiosos que terá de trazer do exterior. A Revolução Cubana e o presidente Fidel Castro são peças importantes do ideário dos teólogos da libertação na América Latina. Isso os tornaria pouco confiáveis para o clero e para os católicos cubanos que resistiram aos anos de semiclandestinidade.
Além disso, a idéia do papa não é internacionalizar a experiência cubana através do clero católico, como tentou fazer, por exemplo, o brasileiro frei Betto.
Pelo contrário, o papa vai a Cuba com a intenção de ensinar, não de aprender. Na opinião do arcebispo de San José (Costa Rica), Román Arrieta, o próprio Fidel Castro está voltando à fé católica.
"Chega um momento da vida das pessoas, principalmente quando sentem que seu fim se aproxima, que se recordam do que sua mãe e a escola lhes ensinaram", disse Arrieta.
Arrieta, presidente da Conferência Episcopal da Costa Rica, acha que Fidel está "mitigando" sua posição e vendo que sua formação familiar e escolar "faz sentido".

Com agências internacionais

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