São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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APERTEM OS CINTOS

A crise internacional jogou o Brasil em uma situação que pode ser comparada à do passageiro de um avião que entrou em zona de terrível turbulência. Não há nada, rigorosamente nada, que o passageiro possa fazer para eliminar a turbulência ou, no mínimo, para levar o avião para mais longe da área de risco.
A não ser, é claro, torcer para que o vôo termine logo, sem danos ainda maiores à estrutura do aparelho.
Nesse cenário, o fato de a agência de avaliação de créditos norte-americana Moody's ter rebaixado à condição de lixo, literalmente, os títulos da dívida coreana corresponde a mais um aviso do comandante de que a turbulência não só vai continuar como tende a se agravar.
O risco imediato é o de uma moratória coreana, que repercutiria diretamente no Japão, cujo desempenho econômico e financeiro depende muito do restante da Ásia.
E o Japão, vale lembrar, é o verdadeiro nó da crise global, pelo seu peso específico e pelo fato de ser o maior detentor de títulos dos EUA.
A reavaliação da Moody's provocou nova queda da moeda coreana, o que cria mais dificuldades para o Brasil. Os asiáticos em geral estão vendo sua produção cair de preço (em dólares) dia a dia. Logo, ganham competitividade externa. A produção brasileira (de aço, minério de ferro, produtos avícolas, por exemplo) terá dificuldades ainda maiores para concorrer com similares asiáticos que podem ser vendidos, em alguns casos, pela metade do que custavam em dólares até seis meses atrás.
A turbulência adicional representada pela desvalorização dos títulos da dívida coreana sinaliza, claramente, a impossibilidade de se prever quando o governo brasileiro poderá reduzir a taxa interna de juros.
Cada vez mais vale a frase do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a data de uma queda significativa dos juros: "Só Deus sabe". É a típica reação de passageiro de avião ao qual só resta rezar para que tudo termine da melhor forma possível.

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