São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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FMI, XERIFE MÍOPE

Desde o início dos anos 90, quando se abria uma nova fase de ampla liquidez financeira, o FMI debate o sistema bancário global e os efeitos dos fluxos de capitais. Foi criticado pelos bancos privados, que viam nessas discussões sementes de um indesejável intervencionismo.
Depois da crise mexicana, o Fundo passou a defender com ainda maior insistência a necessidade de reforços no sistema de informações econômicas sobre os países membros. Também acelerou sua campanha por uma ampliação de seus fundos.
Entretanto, a evolução dos fatos foi mais rápida e muito mais trágica do que poderiam imaginar os técnicos do FMI. Aliás, nem poderia ser muito diferente, levando em conta a dimensão desse organismo e a natural lentidão de sua burocracia.
Deve-se também lembrar que mesmo a idéia de o Fundo fazer "alertas" padece da síndrome das profecias auto-realizáveis. Se uma instituição desse porte anunciasse a "bola da vez", provavelmente precipitaria uma fuga de capitais. Na prática, o FMI transformaria as boas intenções de uma advertência num inferno de problemas ainda mais graves.
Entretanto, mesmo levando em conta as condições de atuação do Fundo, é o caso de perguntar se seu burocratismo e seu conservadorismo não foram longe demais.
Afinal, semanas antes da crise asiática o Fundo elogiava a Tailândia. Agora, o FMI atualiza suas previsões, afirmando que a extensão da crise superou as expectativas.
Seria talvez mais honesto admitir que, mesmo no início de outubro, quando a gravidade da crise já era evidente, o Fundo preferiu um discurso exageradamente otimista.
Tudo não passaria de academicismo não fosse o FMI responsável por receitas de política econômica e pela liberação de recursos por vezes cruciais para economias em crise. A julgar pela trapalhada que o organismo assume, sem mais, ficam claras as tremendas dificuldades do exercício do penoso papel de xerife.

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