São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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O Fundo foi ao fundo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Os líderes do G-7, o clubão dos sete países mais ricos do mundo, passaram duas de suas cúpulas, após a crise mexicana de 1994, discutindo como enfrentar a volatilidade de capitais.
Uma das poucas soluções encontradas foi criar, no FMI (Fundo Monetário Internacional), um sistema batizado de "early warning" ou aviso antecipado sobre perspectivas de crise em algum país.
Agora, se vê que o "early warning" é um fracasso tão redondo que bem poderia trocar de nome para "too late warning", aviso tardio demais.
Só assim se pode entender como é que o FMI consegue errar tão profundamente na sua avaliação da economia mundial. Em outubro, o Fundo produzira um relatório cor-de-rosa, prevendo que o mundo cresceria, em 98, 4,3%. Meros dois meses depois, rebaixa a previsão para apenas 3,5%.
Sem contar erro ainda mais grotesco em relação aos Estados Unidos, por exemplo, em que a mudança, de outubro para dezembro, foi maior (os EUA, em vez de 3,8%, crescerão apenas 2,4%).
Para que servem, então, os mil economistas que, segundo Jeffrey Sachs, trabalham para o FMI? Apenas para reproduzir, acriticamente, as avaliações, invariavelmente positivas, de cada governo?
Note-se que, em outubro, já corria solta a crise asiática, que devastara, sucessivamente, a Tailândia (maio), a Malásia e a Indonésia (julho), para não mencionar o ataque ao dólar de Hong Kong (sempre em julho).
Não obstante, o relatório de outubro do FMI ignorava olimpicamente tudo isso. O Fundo só acorda agora, quando o mundo inteiro já sabe que a crise é feia e não encontrou, ainda, um ponto de, digamos, equilíbrio.
Como somos os contribuintes dos países-membros que sustentamos uma estrutura que se revela inútil como mecanismo preventivo, não está na hora de pensar em algo que funcione um pouco melhor?

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