São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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FAXINA NO DNER

Há várias suspeitas de que o DNER (Departamento Nacional de Estradas e Rodagem), subordinado ao Ministério dos Transportes, seja hoje um foco de irregularidades. O ministro Eliseu Padilha determinou uma sindicância para apurar as denúncias. Padilha, lembre-se de passagem, foi nomeado pelo presidente numa rodada de troca de cargos por apoio no Congresso. Espera-se que a investigação pedida pelo ministro seja rápida e eficiente. Nesse sentido, como prova de boas intenções, Padilha poderia começar afastando os suspeitos até a conclusão das averiguações, como aliás defendeu publicamente parte significativa da bancada do PMDB, o seu partido.
É preciso esclarecer as razões que levaram o DNER a gastar R$ 2,1 milhões com uma empresa de engenharia encarregada de vistoriar a ponte Rio-Niterói, a qual já havia sido privatizada por um contrato de concessão em 94. Além disso, há indícios de relações promíscuas de pelo menos cinco diretores do DNER com empreiteiros. O diretor-geral, Maurício Hasenclever Borges, por exemplo, utilizou o avião de uma construtora em suas viagens, fato que disse considerar "normal". Sua indicação foi feita pelo prefeito de Contagem (MG), Newton Cardoso. Por relações menos promíscuas que essas se leva gente à cadeia nos EUA e na Europa.
É preciso explicar também como e com qual objetivo o orçamento do DNER para 98 foi engordado em mais de R$ 600 milhões por emendas de parlamentares. Obras viárias são uma das principais fontes de lucros de empreiteiras, tradicionais financiadoras de campanhas eleitorais. Além disso, estradas têm muita visibilidade e rendem votos para políticos que as apadrinham.
Fernando Henrique Cardoso se elegeu prometendo, entre outras coisas, fortalecer as instituições democráticas e renovar os hábitos da política brasileira. O DNER e seu consórcio de interesses nebulosos é hoje uma imensa pedra no caminho do presidente. É preciso removê-la.

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