São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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Injeção de US$ 10 bi tira Coréia da UTI

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O moeda coreana, o won, reagiu ontem e fechou com alta de 20%, a maior valorização já registrada em um único dia. A razão para o otimismo foi o anúncio de um empréstimo internacional de US$ 10 bilhões para socorrer o país, sendo que US$ 2 bilhões serão liberados na próxima terça-feira.
O alívio produzido pelo socorro internacional deu um pouco de fôlego para o país, mas o risco de o país pedir uma moratória ainda não está totalmente afastado.
Ontem um dólar norte-americano comprava 1.530 wons, enquanto que no dia anterior a moeda dos EUA conseguia comprar cerca de 1.840 wons.
A Bolsa de Valores de Seul, a principal do país, também reagiu com otimismo, fechando ontem com valorização de 6,7%.
Demonstrando disposição para atender às medidas propostas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo coreano informou ontem que decidiu desistir do plano de estatizar a Kia Motors, a quarta indústria automobilística do país.
Segundo o governo, a indústria automobilística, que desde o início do ano vive grave crise financeira, deve ser vendida ou fundida a outro grupo privado.
O FMI anunciou na quinta-feira à noite que desembolsará em caráter extraordinário US$ 2 bilhões na próxima terça para ajudar a Coréia do Sul a superar a crise financeira que atravessa.
O FMI anunciou ainda que os países do G-7, grupo dos sete países mais ricos do mundo (EUA, Japão, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Canadá) estão dispostos a emprestar outros US$ 8 bilhões. Austrália, Bélgica, Holanda, Nova Zelândia, Suécia e Suíça também devem participar dos esforços para evitar o colapso da economia coreana, segundo o FMI.
Nas últimas semanas, a Coréia do Sul recebeu cerca de US$ 10 bilhões de socorro do FMI, Banco Mundial e Banco de Desenvolvimento Asiático.
Em contrapartida, o país teve se comprometer a cumprir um rígido programa de ajuste econômico imposto pelo FMI, incluindo uma ampla reestruturação de seu sistema financeiro.
O socorro internacional visa evitar que a Coréia declare moratória, deixando de honrar com seus compromissos que, no curto prazo, dizem respeito ao pagamento de dívidas que somam US$ 15 bilhões ainda neste ano. Outros US$ 1 bilhão de dívidas vencem no mês de janeiro.
O temor de uma moratória, que afetaria a credibilidade de toda a região e teria o efeito de encarecer ainda mais o custo do dinheiro para os países em desenvolvimento, derrubou a cotação do won, que chegou a registrar desvalorização próxima de 60% no ano.
Indústria automobilística
A Mando, a maior indústria de autopeças da Coréia do Sul, anunciou ontem que decidiu voltar a operar. Desde quarta-feira à noite, a indústria tinha parado por causa de problemas financeiros.
A decisão da Mando de parar de entregar suas peças obrigou as maiores indústrias automobilísticas do país, como a Hyundai e a Kia, a também suspenderem a produção, por falta de peças. Ontem as duas montadoras anunciaram que retomaram a produção.
A recente alta das taxas de juros cobrados nos empréstimos a empresas coreanas deve significar a quebra de mais empresas, segundo a avaliação de economistas.
"A regra do jogo é simples. Juros altos significam escassez de dinheiro e quebradeira", afirmou um desses economistas.
"Os juros elevados vão eliminar as empresas com problemas e deixar ainda mais saudáveis aptas a crescer", considera.
Dinheiro escasso
A recuperação parcial da moeda coreana e a valorização registrada ontem pela Bolsa de Seul, no entanto, estão longe de significar o final da crise no país, para esses analistas.
"A crise está longe de ter acabado. As expectativas de alta do dólar (com relação ao won) ainda continuam elevadas", afirmou um economista.

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