São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997 |
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POLÍTICA EM FRAGMENTOS Está em curso, no mundo todo, uma sutil mudança na maneira de fazer política. Perdem espaço os partidos, habituais intermediários entre o Estado e a sociedade na política clássica, e ascendem organizações de diferentes tipos, cuja principal característica é a fragmentação das demandas que acabam por impor à agenda de cada país e sociedade. O exemplo talvez mais sintomático da ascensão dessa nova forma de fazer política é o Prêmio Nobel da Paz para Jody Williams, coordenadora, nos Estados Unidos, de uma campanha internacional pelo banimento das minas terrestres. Prêmios anteriores foram dados a personalidades que lutavam por soluções que consideravam -ou de fato eram- mais abrangentes. Exemplo notório: o Nobel para o premiê israelense Yitzhak Rabin e sua contraparte palestina, Iasser Arafat. Os dois defenderam o processo de paz na região, em tese a solução para todos os problemas, até os de ordem econômica. Supunha-se que, uma vez conseguida a paz, viria a seguir um desenvolvimento econômico mais acelerado. Jody Williams, ao contrário, defende apenas um fragmento de solução. Não propõe o fim de todas as armas. Entre um objetivo ideal e o possível, a campanha se fixou neste e acabou por obter um tratado, assinado por mais de cem países, banindo as minas terrestres -um inequívoco passo adiante. No Brasil, há um exemplo com alguma semelhança: a Fundação Abrinq está obtendo êxitos na sua campanha para eliminar o trabalho infantil. É, igualmente, uma proposta limitada. Embora a fundação estenda seu trabalho de proteção à infância em vários outros aspectos, conseguiu resultados mais palpáveis na questão do trabalho. É cedo, claro, para avaliar em que medida essa nova modalidade de política vai se consolidar. O importante é anotar que há um número maior de atores fazendo parte do jogo, o que impõe novos desafios aos governantes e aos partidos políticos. Próximo Texto: O ORIENTE MÉDIO EM 98 Índice |
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