São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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O ORIENTE MÉDIO EM 98

Seria mais do que otimismo, e otimismo ademais precoce, afirmar que há um processo de distensão na política de certos países do Oriente Médio. Mas alguns fatos recentes indicam pelo menos que 1998 pode começar menos anuviado que o de costume nessa região do planeta, onde, de resto, permanece o conflito entre israelenses e palestinos.
No Irã, assiste-se ao esforço do presidente Mohammad Khatami de dialogar com os EUA e de passar a imagem que condena o terrorismo islâmico. Khatami, ao que parece, também tenta ganhar a simpatia ocidental com o anúncio de que tentaria anular a sentença de morte contra o escritor Salman Rushdie.
Mas, menos animador, apesar do diálogo inédito, o xeque Mohammad Saied Tantaui, a maior autoridade muçulmana sunita, se recusou a assinar um comunicado junto com o grão-rabino Israel, Meir Lau, de condenação ao terrorismo. Afora o encontro dos religiosos, o processo de paz entre palestinos e israelenses segue ainda mais difícil.
Com a oposição pedindo sua renúncia, tende a aumentar o isolamento de Binyamin Netanyahu, caso o premiê israelense mantenha a construção de novos assentamentos em área palestina e não execute a retirada da Cisjordânia, contrariando resolução da ONU e mesmo pedido dos EUA. Os norte-americanos, envolvidos em outra queda-de-braço com o Iraque, que desrespeitam resoluções da ONU, assistiram também a uma demonstração de força do governo iraniano. O Irã conseguiu reunir, no início do mês, velhos inimigos e aliados dos EUA.
O diálogo que Khatami pretende ter com o adversário ainda tem muitos obstáculos a transpor. A disputa interna pelo poder é o primeiro deles. As condições impostas por cada uma das partes são outro. O Irã quer o fim do isolamento diplomático, enquanto os norte-americanos exigem a interrupção da corrida armamentista e do apoio ao terrorismo.
O avanço iraniano ainda é apenas retórico. Mas o afastamento do radicalismo religioso é um processo lento e contraditório, como atestam os países que se propõem a realizá-lo.

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