São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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O ano do Tigre

PAULO YOKOTA

No calendário chinês, que é utilizado em quase toda a Ásia, 1998 é o ano do Tigre. Apesar de alguns comentaristas afirmarem que os "tigres asiáticos" viraram gatos, com os acontecimentos deste ano eles parecem ter se tornado tigres feridos, mais agressivos.
O Japão, o pioneiro deles, que ora passa por grandes dificuldades, apresentou no pós-guerra um crescimento econômico que supera a casa dos 6% anuais. De uma economia arrasada pelo conflito mundial tornou-se a segunda potência econômica do mundo, graças à capacidade de trabalho de sua população, ao elevado nível de educação e à alta taxa de poupança interna.
Muitos dos países asiáticos, começando pelos pequenos entrepostos, adotaram políticas de desenvolvimento semelhantes às inspiradas pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior do Japão, com grande agressividade nas exportações.
Assim, Hong Kong, Cingapura e Taiwan, bem como a Coréia, passaram, a partir da década de 60, por um formidável crescimento econômico, superior a 8% ao ano, tornando-se conhecidos como "tigres asiáticos". Mais recentemente, outros países do Sudeste Asiático foram incorporados a esse processo, como a Tailândia e a Malásia.
Também a continental China, utilizando mecanismos de mercado e incorporando-se à economia mundial, passou a receber gigantescos investimentos do exterior, registrando após 1980 um crescimento que chega a 8,7% ao ano.
Ainda que muitos analistas estejam anunciando o fracasso do modelo asiático, o fato concreto é que o processo multiplicou em muitas vezes o nível de renda "per capita" de um grande contingente populacional.
Há duas décadas, eles estavam bem abaixo dos brasileiros; hoje, estão num nível cerca de três vezes mais elevado. Encontravam-se no que correspondia aos padrões de vida das camadas mais pobres do Nordeste ou da Amazônia brasileira, e hoje estão em níveis superiores aos do Estado de São Paulo.
Enfrentam hoje dificuldades? Sim, mas parece mais uma crise de crescimento, pois continuam com elevado contingente populacional a ser incorporado na produção, um mercado consumidor interno promissor, acesso à tecnologia moderna e um desenvolvimento político a seu modo.
O influxo exagerado dos recursos financeiros internacionais criou demasiadas facilidades, e investimentos duvidosos foram efetuados, como os da área imobiliária. Muitos bancos emprestaram seus recursos a empreendimentos que passaram por uma bolha; hoje, alguns terão de encerrar as suas atividades, espalhando prejuízos mundo afora. Mas os casos de sucesso foram mais frequentes.
Como regra geral, os países asiáticos contam com uma população profundamente voltada para o trabalho, elevado nível educacional, uma taxa de poupança muito superior à dos latino-americanos e contas públicas equilibradas; suas taxas de juros são as internacionais, e eles estão agora com câmbios extremamente desvalorizados.
Não contando, por ora, com crescimentos nos seus mercados internos -os consumidores estão pessimistas, os investidores estão retraídos e os governos que procuram manter suas contas equilibradas-, vão se socorrer agressivamente do crescimento de suas exportações, mais ainda que no passado recente, quando as expansões já eram espantosamente superiores a duas dezenas anuais.
É difícil entender como alguns jornais disseminam a idéia de que a desvalorização cambial asiática ajudará o Brasil no equilíbrio de suas contas comerciais. Certamente, é uma comédia de erros.
Esperamos que as economias latino-americanas estejam se preparando para uma concorrência internacional com esses tigres furiosos e para o crescimento vigoroso de suas exportações, cada vez mais vital para a manutenção do ritmo de crescimento econômico e do emprego.
Parece que os desafios apresentados às diferentes economias são mais estimulantes à criatividade e ao desenvolvimento do que o excesso de facilidades, que tende a deixar importantes distorções.

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