São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997
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Governo paga até R$ 35 por 1 guardanapo

Conta é de R$ 48 mil

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio da Alvorada (residência oficial do presidente Fernando Henrique Cardoso) e o Itamaraty aproveitaram a virada do ano para renovar seus estoques de guardanapos de linho com bordados em seda. A conta para o contribuinte sairá por R$ 48.260, mais de 400 vezes o valor do salário mínimo.
A encomenda está registrada no Siafi, o sistema informatizado que acompanha a administração financeira da União. O prazo de entrega dos 2.400 novos guardanapos para o Alvorada e outros 1.500 para o Itamaraty é janeiro.
Embora todos sejam fabricados em linho puro, a diferença de preços é enorme: a diretoria geral de administração da Presidência da República acertou pagar R$ 4,90 por guardanapo; o cerimonial do Itamaraty pagará até R$ 35 por unidade. A diferença de preços é justificada pelos bordados em linha de seda que acompanham as especificações da encomenda.
Os guardanapos brancos e bege do Palácio da Alvorada têm o logotipo "PR" (de Presidência da República) bordados em bege e apenas um friso reto acompanhando a bainha. Destinam-se ao uso diário do presidente e a almoços e jantares formais do palácio, informou a assessoria do Planalto.
O modelo é considerado "simples" pela microempresa de Brasília responsável pelo trabalho, a Tal e Qual Comercial Confecções e Representações Ltda. A durabilidade do produto é estimada em um ano.
O lucro do negócio de R$ 11.760 é calculado em 15% pela empresa, que recusou o convite para participar do negócio do Itamaraty, orçado em R$ 36.500.
Os guardanapos do Itamaraty seguem modelos tradicionais e mais rebuscados. Além do logotipo "RE" (de Relações Exteriores) bordado nas cores branco e verde, os guardanapos têm bainha em formato ondulado, igualmente bordada, o que encarece o serviço.
Uso intenso
A assessoria do ministério informou que os atuais guardanapos foram comprados há mais de dois anos. Os novos poderão resistir a cinco anos de uso intenso, disse o fabricante. Foram encomendados três tipos, com preços de R$ 13, R$ 25 e R$ 35 a unidade.
O serviço foi ganho por outra pequena empresa de Brasília (nem tem placa na porta), chamada Dolphin Comércio e Representação Ltda.
As notas de empenho do Ministério das Relações Exteriores e do Palácio do Planalto -uma formalidade que antecede o pagamento da fatura- foram emitidas em prazo inferior a uma semana, em 10 e 16 de dezembro, segundo registra o Siafi, pesquisado pelo gabinete do deputado Augusto Carvalho (PPS-DF).
Segundo o deputado, despesas desse tipo são comuns no final do ano, quando os órgãos públicos tentam esgotar o dinheiro previsto no Orçamento. As despesas com guardanapos foram debitadas no item "cama e mesa".

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