São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997
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Alencar terá caixa de R$ 1 bilhão em 98

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

O PED (Programa Estadual de Desestatização) criou para o governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), candidato à reeleição, uma possibilidade impensável quando assumiu: aplicar em obras de impacto político cerca de R$ 1 bilhão, quantia semelhante à que Cesar Maia (PFL) investiu para eleger Luiz Paulo Conde, seu sucessor na Prefeitura do Rio, em 96.
Os recursos equivalem à maior parte da arrecadação com a venda do Banerj, da Ceg (Companhia Estadual de Gás) e da Cerj (Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro).
A Cerj foi comprada em novembro do ano passado por um consórcio formado pela Chilectra (do Chile), Endesa (espanhola) e EDP (de Portugal), por R$ 605,32 milhões. Em 96, teve um prejuízo de R$ 267 milhões, mas espera fechar 97 com um lucro de R$ 24 milhões.
O Banerj foi vendido ao Itaú em 26 de junho deste ano, por R$ 311 milhões.
A Ceg (Companhia Estadual de Gás) foi vendida para a Rio-Gás em 14 de julho, por R$ 622 milhões.
A privatização dessas empresas viabilizará uma onda de inaugurações em 98, um ano eleitoral. Os 30% restantes foram usados para pagar dívidas do Estado.
"O Estado está aplicando em obras sociais e de infra-estrutura 70% do que arrecadou com as privatizações", diz o secretário estadual da Fazenda, Marco Aurélio Alencar, filho do governador.
Fermento eleitoral
Em 96, o investimento feito pelo então prefeito Maia (de R$ 1,2 bilhão) resultou em uma enxurrada de inaugurações.
As obras transformaram em fenômeno Conde, o candidato da situação, que inicialmente tinha 4% de intenções de voto.
A partir de março de 98, o governador (e candidato) terá uma sucessão de inaugurações, entre elas reformas de estradas e obras de saneamento em São Gonçalo, Itaboraí e Baixada Fluminense -regiões onde o PDT ainda tem força.
Segundo Alencar, dizer que privatização tira voto é "conversa fiada".
Ele diz que "quem fizer destinação em favor do povo de recursos do processo de desestatização" não vai perder politicamente.
A possibilidade de crescimento eleitoral de Alencar em consequência das obras pagas com o dinheiro da privatização já foi antevista por um possível adversário em 98: o prefeito de Campos, Anthony Garotinho (PDT), que disputou com Alencar o segundo turno em 94.
"Há muito tempo eu venho alertando para a possibilidade de o segundo turno (de 94) se repetir", diz ele. "Isso por causa da fragilidade da estrutura partidária do Cesar Maia (candidato do PFL a governador) e da estratégia de chegada do governador."
Garotinho diz que o governador investe pesado no interior e inaugura até obras sem importância, como um trevo em Macaé.
"A próxima obra que ele vai inaugurar será um quebra-molas", diz.
Maia, contudo, diz não estar preocupado. Para ele, o governador já gastou com rombos no caixa do Estado quase tudo o que obteve com a venda de empresas estatais.
Segundo ele, Alencar deve começar o ano com uma sobra de R$ 250 milhões, vai inaugurar muito menos obras do que promete e não tem possibilidade de iniciar novas obras em 98, mesmo que venda a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) por R$ 3 bilhões, como cogita.
"Ninguém faz obras em três meses", afirma o pefelista, que diz lamentar que os recursos obtidos com o PED não tenham sido gastos na reforma do Estado.
Programa
Henrique Dittmar Filho, conselheiro da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos e ex-secretário-executivo do PED, acha que os resultados do programa são positivos para o Estado, mas admite que o Rio pode ter sofrido algumas consequências do pioneirismo.
"A Cerj inaugurou o ciclo de leilões das distribuidoras de energia elétrica" afirma. "Na época (novembro de 96), o ágio de 30% foi considerado representativo hoje, já não é tão representativo."
Empresas de eletricidade privatizadas recentemente têm sido vendidas com ágios na faixa de 80%.
Dittmar acha que um dos grandes ganhos pode estar nos R$ 5 bilhões que resultam da soma do dinheiro arrecadado (cerca de R$ 1,6 bilhão) com os subsídios que o governo deixará de dar e os investimentos que deixará de fazer.

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