São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997 |
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THALES DE MENEZES "Esse Guga já era. Pô, o cara perdeu hoje de uma chileno. Um chileno, cara! Um chileno! É o fim do mundo!"O comentário, emitido aos berros por um bebedor de cerveja numa esquina do Guarujá, revela duas coisas tristes. Primeira: a falta de informação dos torcedores, o que é perdoável. Segunda: a preguiça dos mesmos, esta imperdoável. O teórico de bermudas e latinha na mão nem se preocupou em saber a posição do tal chileno no ranking mundial antes de soltar comentários abalizados. Brincadeiras à parte, o jogo de exibição em que Marcelo Ríos derrotou Gustavo Kuerten abre espaço para uma reflexão a respeito dos sul-americanos no circuito profissional. Na quadra, dois jovens que são os mais talentosos tenistas sul-americanos desta década. Ríos joga mais do que Kuerten, mas o brasileiro já conseguiu maior fama por ter vencido um título de Grand Slam. O duelo dos dois é visualmente muito bonito -e não há aqui qualquer referência ao estilo skatista de Ríos e ao jeitão surfista de Kuerten. Falo da angulação das bolas, sempre agressivas e muito baixas. Os dois gostam de soltar o braço. No entanto, quem acompanha o circuito não consegue imaginar nenhum dos dois no topo do ranking. O motivo está no olhar de cada um. Há uma inquietude, um nervosismo até, que nasce do sangue latino. Tenista sul-americano é sempre igual: motivado pela emoção, é capaz de virar jogos impossíveis quando o público o incentiva, mas também pode perder partidas fáceis quando encontra algo que o perturbe. E essa perturbação pode vir de qualquer lado: barulho do público, marcação errada do árbitro, muito sol, o céu nublado, a namorada que implicou com alguma coisa, o horóscopo que não estava bom... Como diz um amigo, "tenista latino só melhora com transfusão de sangue". É pena. Texto Anterior: Quem subiu e quem desceu em 97 Próximo Texto: Guru ideal; Meu garoto!; Só perguntando Índice |
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