São Paulo, sábado, 1 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novo "Macunaíma" é lançado na França

BETINA BERNARDES
DE PARIS

Os leitores franceses estão se habituando cada vez mais a ver nomes brasileiros nas livrarias, e não é apenas por causa do fenômeno Paulo Coelho ou do sempre bom de vendas Jorge Amado.
Nesta semana, chegou às livrarias uma nova edição de "Macunaíma", de Mário de Andrade, publicada pela Stock/Unesco.
"Sagarana", de Guimarães Rosa, também ganhou sua primeira versão francesa, pela editora Albin Michel.
No dia 12 de fevereiro, será a vez de Jô Soares se tornar um nome familiar na França, com a publicação de "O Xangô de Baker Street", que na versão local se chamará "Élémentaire, Ma Chère Sarah" (elementar, minha cara Sarah) -leia texto ao lado.
Desafio
A tradução de autores como Mário de Andrade e Guimarães Rosa se mostra um dos principais desafios para as versões francesas de suas obras.
Jacques Thiériot, 65, foi quem traduziu os livros desses dois autores que chegaram recentemente às livrarias.
Se "Sagarana" manteve o nome original, "Macouna‹ma" ganhou um trema e uma letra a mais para que a pronúncia se aproximasse o máximo possível da brasileira.
"Considero Macunaíma meu irmão brasileiro", disse à Folha Thiériot. Esse foi o primeiro livro que ele leu quando morou no Brasil, nos anos 70, como diretor da Aliança Francesa do Rio e de São Paulo.
Segundo Thiériot, foi paixão à primeira leitura. Logo depois, começou o trabalho de tradução, que duraria quatro anos.
"Tive a sorte de começar minha obra de tradutor por 'Macunaíma', texto fundamental da literatura brasileira contemporânea, no qual enfrentei uma série de dificuldades. Isso me ajudou muito para resolver problemas nas traduções de outros autores, de Guimarães Rosa em particular", afirma.
Nas traduções para o francês, ele exige que conste a menção "traduzido do brasileiro".
" 'Macunaíma' é o primeiro livro escrito em brasileiro, o próprio Mário de Andrade dizia que era uma obra em brasileiro. Logo, não se pode dizer que é traduzido do português simplesmente, nem mesmo do português do Brasil."
A versão francesa da Stock/Unesco foi coordenada por Pierre Rivas. Além do texto, traz um prefácio crítico e artigos sobre a obra de Mário de Andrade.
"Sagarana"
Se, para traduzir "Macunaíma", Thiériot levou quatro anos, para "Sagarana" foram necessários apenas 14 meses.
"Tive o trabalho paradoxal, pois já havia traduzido antes a mais difícil obra de Guimarães Rosa, 'Tutaméia'. Ele tinha chegado a um estilo muito condensado e rebuscado, cada palavra era uma dificuldade, havia três ou quatro possibilidades de tradução. 'Sagarana' foi menos difícil, mas também tive que fazer um esforço grande."
Thiériot é um dos principais tradutores de obras brasileiras na França. Há 20 anos lidando com o assunto, ele já traduziu cerca de 40 textos, que vão da literatura ao teatro, passando pelo cinema.
É presidente há oito anos do Colégio Internacional de Tradutores Literários, que reúne na França cerca de 400 profissionais de 58 países.
Thiériot levou para o francês autores como Antonio Callado, Clarice Lispector, Oswald de Andrade e João Ubaldo Ribeiro, peças de Nelson Rodrigues e Chico Buarque e a versão francesa de "Eu Sei que Vou te Amar", de Arnaldo Jabor.
Nos tempos em que morou em São Paulo, era também diretor do teatro Aliança Francesa. Nessa função, conheceu o diretor Antunes Filho, com quem trabalhou na adaptação teatral de "Macunaíma".
"O espetáculo durou cinco anos e fez grande sucesso não só no Brasil, mas também aqui na Europa. Foi uma experiência fabulosa", lembra.

Texto Anterior: Mãe de filho de Renato Russo vai à Justiça
Próximo Texto: Brasil vai a Salão do Livro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.