São Paulo, sábado, 1 de fevereiro de 1997 |
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Alberto Cavalcanti, 100 anos
CASSIANO ELEK MACHADO
A obra do diretor, ator e produtor carioca, considerado um dos brasileiros mais importante na história do cinema mundial, ganha retrospectiva a partir de hoje na sala Cinemateca. "Tagarelice francesa, relojoaria suíça, um pouco da introspecção inglesa e da improvisação italiana", temperada, é claro, pela "preguiça latino-americana". Essa é a definição do cineasta por Claudio Valentinetti e Lorenzo Pellizzari, críticos italianos que escreveram "Alberto Cavalcanti" (Instituto Lina e Pietro M. Bardi). A obra de Cavalcanti não tem um lar específico. Espécie de cigano cinematográfico, em 50 anos de carreira o cineasta atuou não só na França, Inglaterra, Suíça, Itália e Brasil, como também na Romênia, Israel e Áustria. "O Brasil, falando francamente, foi um desastre para mim", escreveu em seu livro "Filme e Realidade", editado em 1951. Cavalcanti se queixava de que dois dos seus filmes que considerava mais importantes -"The Life and Adventures of Nicholas Nickleby" e "Sr. Puntila e Seu Criado Matti", que faz parte da mostra- nunca foram difundidos por aqui. A mágoa do cineasta também se estendia à sua experiência em uma das maiores indústrias cinematográficas brasileiras. Vera Cruz Depois de participar da vanguarda francesa nos anos 20 e da escola de documentário inglesa dos anos 30, Cavalcanti aterrissou em uma granja em São Bernardo. O cineasta foi um dos idealizadores da Vera Cruz, companhia criada em 1949, que tinha como lema "produção brasileira de padrão internacional". O carioca foi o responsável pela vinda de boa parte dos nomes estrangeiros que colaboraram na busca dessa excelência. Alguns deixaram a companhia no início de 1951, quando, depois de participar da produção de quatro dos melhores filmes da Vera Cruz, Cavalcanti foi afastado da empresa. "Caiçara", "Terra É Sempre Terra", "Painel" e "Santuário" estão entre os 25 filmes do ciclo "Alberto Cavalcanti, 100 anos" (veja quadro abaixo). Para o segundo ano de Vera Cruz, Cav, como o diretor era conhecido na Inglaterra, tinha seis roteiros preparados, um deles, uma cinebiografia de Noel Rosa. Assim como Glauber Rocha, o cineasta se celebrizou pela extensa produção -Cavalcanti participou de 93 filmes- e por criar muito mais projetos do que pôde ou poderia realizar. Uma de suas idéias mais mirabolantes chegou aos cinemas nacionais 13 anos após sua morte. O diretor Jom Tob Azulay recuperou em "O Judeu" um dos últimos projetos de Cavalcanti, a transposição para as telas da história do dramaturgo português Antônio José da Silva. Texto Anterior: Programação do ciclo Próximo Texto: Cronópios e famas se encontram no palco Índice |
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