São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Carnavalesco só trabalha ouvindo Vivaldi

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

O carnavalesco tanto pode ser um homem pobre, que nasceu no morro, com o samba no pé, como um rico que não gosta de ensaios e encara o cargo de forma estritamente profissional. Esse é o caso de Mário Borrielo, carnavalesco do Salgueiro desde 1992.
Ele diz que desenha figurinos de Carnaval ouvindo Vivaldi e que prefere um piano-bar a uma quadra. "Nada contra os ensaios, mas é muito cheio", afirma.
"Sou da cidade, da zona sul", diz Borrielo, morador da Barra, que reina no barracão do Salgueiro, na Tijuca, zona norte, trajando camisa Lacoste e sandália da moda.
Artista plástico, ele considera que "a escola de samba é a linguagem exata" para expressar sua arte. Borrielo faz questão de dizer que não é do samba, uma vez perdeu a oportunidade de expressar sua arte. "Me chamaram para ser carnavalesco e eu pedi um carro com motorista para me buscar."
Anos depois, ele foi chamado quando o carnavalesco foi demitido meses antes do desfile. Foi então que descobriu um termo para a arte que faz. "É 'artefolia', conforme definiu a professora da USP Nilza de Oliveira", disse.
"Antes eu atravessava a vida com essa dualidade do que eu defendia e do que eu fazia como arte. Eu colocava o Carnaval como uma coisa menor."
Penha
Oswaldo Jardim, da Mangueira, é do samba. "A primeira vez que fui carnavalesco foi aos 12 anos, em um bloco lá na Penha."
Jardim morava na Penha (zona norte) e era pobre. Filho de bancário, teve sua primeira experiência no Carnaval fazendo máscaras.
"Fiz 25 máscaras para um bloco do sujo da rua Aurora", lembra. "Eu era um duro, só usava roupa da tergal porque durava mais."
Jardim começou a se interessar pelas escolas quando os desfiles começaram a passar na TV. Ainda pequeno, lembra dos carnavais na avenida Rio Branco, centro do Rio. "Aqueles bonecos de Olinda, enormes, em frente à Assembléia, mexiam com a minha cabeça", diz.
Em 84, foi trabalhar na Estácio de Sá para fazer os figurinos. Sugeriu apresentar um enredo sobre Grande Otelo e acabou ganhando o cargo de carnavalesco. Agora, no segundo ano na Mangueira, Jardim diz que só tem roupas que não podia ter quando era pequeno.

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