São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Nisseis formam banda de rock pesado

RODRIGO BERLOTTO
DE BUENOS AIRES

Maria Kodama, poeta e viúva do escritor Jorge Luis Borges, deixou de ser a única celebridade da comunidade japonesa na Argentina.
Agora, ela tem a companhia dos Tintoreros, banda de rock pesado formado por nisseis.
"Se não fizéssemos sucesso, estaríamos lavando e passando roupa", afirma Diego Chinen, um dos guitarristas do grupo.
Os Tintoreros começaram em 1991, lançaram em 1996 o disco "Primate" e o videoclipe da música "Nunca", que pode ser visto na MTV Latina.
Dois integrantes do grupo, porém, ainda exercem a profissão de tintureiros: o vocalista Pablo Nakamura e o outro guitarrista, Daniel Shimabukuro.
"Nosso vocalista é mestre em tinturaria: lava a seco, passa e tinge", diz Diego. Não é para menos: 42% da comunidade japonesa na Argentina explora o ramo. Outros 17% se dedicam à floricultura.
Os chegados entre 1945 e 1950 acabaram se tornando empregados nas tinturarias dos japoneses já estabelecidos -a imigração começou em 1920. À medida que aprendiam o ofício e juntavam dinheiro, abriam seus próprio negócios.
Mas, na década de 80, os descendentes tentaram o caminho inverso, indo trabalhar no Japão.
"Muitos voltaram para cá com US$ 20 mil, compraram um carro, fizeram um churrasco, e o dinheiro acabou em um mês", conta o baixista Pablo Chinen.
A comunidade não vê com bons olhos a banda. Há um ano, os líderes japoneses barraram a participação dos Tintoreros em um festival de imigrantes que se realiza em Okinawa.
"Eles disseram que nós teríamos de tocar tango para poder nos apresentar", afirma Diego.
O "gaijin" (estrangeiro) dos Tintoreros é o baterista, Pablo Barbieri. "Não conseguimos encontrar um japonês para o posto", brincam os outros.
"Não me incomodo que me chamem de 'chino', 'kung fu' ou 'ponja'. É até mais fácil. Japonês tem mais sílabas", diz Diego.
Segundo ele, os sul-coreanos e chineses são muito fechados. Por isso, só tem um amigo coreano.
"Não gosto quando vejo um argentino tirando sarro de algum coreano ou chinês porque não sabe falar direito. Fico pensando que meus pais e avôs tiveram o mesmo problema", afirma Diego.
(RB)

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