São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997 |
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Analistas vêem sinais de desequilíbrio
ANTONIO CARLOS SEIDL
Esses sinais advertem para a existência de um desequilíbrio crescente no balanço de pagamentos, que reflete desequilíbrios macroeconômicos fundamentais que ainda não foram corrigidos. Paulo Leme, economista da Goldman Sachs, de Nova York, diz que a situação ainda é contornável, mas afirma que o governo brasileiro está perdendo tempo e o grau de liberdade. "A cada dia que passa, sair da camisa de força da âncora cambial fica mais difícil", afirma. Leme diz que a estratégia do governo na área econômica deveria ser acelerar a privatização. "A privatização é o módulo central de tudo, porque, do lado do balanço de pagamentos, o Brasil pode conviver com um aumento do déficit em conta corrente, mas para isso precisa de financiamento externo e para ter financiamento externo, precisa de credibilidade, e então a privatização é fundamental para gerar confiança e credibilidade nas reformas." Em segundo lugar, diz Leme, a privatização tem um aspecto de alívio fiscal caso a receita da privatização seja utilizada de maneira correta, que é abater dívida interna, reduzindo um outro foco de tensão, que é a taxa de juros. Essa, por sinal, é a finalidade defendida pela equipe econômica, capitaneada pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. Assim, diz Leme, a estratégia econômica deve combinar uma aceleração na privatização com um desaquecimento da economia, que, diz, vem muito embalada desde o final do ano passado. "O âmago da questão é que o Brasil tem o privilégio de ter um setor privado muito saudável, mas não há espaço na economia para os dois: se o setor privado se expande, o setor público tem que contrair" diz. O problema, afirma, é que o setor público está muito inchado. É fundamental que o governo continue mantendo os gastos dos Estados sob controle, e que a próxima decisão de política salarial para o salário mínimo e o funcionalismo público seja mais austera possível, porque a folha é muito inchada e o impacto no déficit vai ser muito forte, se houver um aumento além da taxa esperada de inflação. Segundo Leme, a economia pode crescer a 4% e 4,5% e financiar um déficit de conta corrente de 3,5% a 4% do PIB sem problema algum. Mas, para poder financiar déficits crescentes de conta corrente até 4% do PIB, para poder crescer 4% a 4,5%, o Brasil precisa dar sinais de que está fazendo progressos na reforma estrutural, na privatização e no ajuste fiscal. O risco de não haver progresso nessa área é que o investidor pode começar a mudar de ânimo, ou seja, o financiamento pode secar. O Brasil não tem um problema iminente de balanço de pagamentos, mas poderia vir a ter se não há progresso nas reformas. Dan Dorrow, da Merrill Lynch, diz que o efeito mais positivo da aprovação da emenda da reeleição neste primeiro trimestre é a possibilidade de aceleração do processo de privatização. Para Dorrow, o passo mais importante que o governo brasileiro pode dar neste ano é concluir a privatização da Vale e dos setores elétrico e de telecomunicações. Dorrow diz que o déficit comercial é um risco para a estabilização. As projeções da Merrill Lynch indicam que o país terá um déficit de US$ 10,4 bilhões neste ano. A instituição reviu suas projeções, passando a prever um déficit maior, porque as importações estão maiores do que esperava e as exportações preocupam. Para Dorrow, falta ao Brasil uma cultura de exportação. Em sua opinião, a desvalorização do real em relação ao dólar não é a solução. "A resposta é como o país pode fazer as exportações crescerem mais rápido sem desvalorização, e o maior problema é que não vejo como isso pode ser resolvido rapidamente", afirma Dorrow. "É uma resolução de médio prazo baseada em tornar os exportadores mais orientados para o exterior, desenvolvendo uma cultura de exportação. É um processo de longo prazo." Texto Anterior: Descoberta anima o Pará Próximo Texto: Novas táticas acirram conflito no Pontal Índice |
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