São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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Novas táticas acirram conflito no Pontal

EDMILSON ZANETTI

DA AGÊNCIA FOLHA, NO PONTAL DO PARANAPANEMA (SP)

Sem-terra agora invadem áreas improdutivas e fazendeiros superfaturam propriedades na região

A nova tática do MST, de invadir terras improdutivas, particulares ou não, e o superfaturamento das propriedades pelos fazendeiros, como forma de enfrentar a desvalorização desde a implantação do Real, transformaram o confronto dos sem-terra com a UDR no Pontal do Paranapanema em uma guerra sem fim.
Com a invasão da fazenda Santa Terezinha, no dia 13 passado, em Santo Anastácio, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), inaugurou a etapa das invasões das terras improdutivas.
Até então, o movimento só vinha invadindo propriedades consideradas devolutas (pertencentes ao Estado, embora ocupadas por particulares), sem considerar o aspecto produtividade. Isso forçava os fazendeiros a negociar.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Roosevelt dos Santos, diz que "a guerra vai durar enquanto o governo não tomar medidas para resolver".
"Enquanto existir latifúndio, o MST vai estar lutando por reforma agrária", diz Laércio Barbosa, um dos líderes sem-terra no Pontal.
Não por acaso a região foi escolhida como principal campo dessa batalha no Estado. Dos cerca de 1 milhão de hectares de terras, 20% são privados. Outros 40% são terras devolutas, e os 40% restantes não têm definição.
Até 20 anos
Uma ação na Justiça, para definir o direito de propriedade, pode durar até 20 anos, só para julgamento em primeira instância.
Os números comprovam a tendência de um conflito prolongado. Quanto maior tem sido o número de famílias assentadas pelo governo, mais sem-terra são atraídos para invasões.
Na década de 80, quando não havia a presença organizada do MST no extremo oeste do Estado, foram assentadas 2.543 famílias, segundo o governo estadual. Os sem-terra eram cerca de 5.000, segundo dados do movimento.
Na década de 90, até o final do ano passado, foram beneficiadas com projetos de reforma agrária outras 3.377 famílias, das quais 2.427 no governo Covas.
Os sem-terra cadastrados pelo Incra são 2.500, mas existem outras 5.413 famílias acampadas junto a oito fazendas, em seis cidades.
O MST considera sem-terra também -portanto, potenciais invasores- 1.600 famílias que vivem no alojamento de uma empreiteira e cerca de 10 mil famílias de ex-funcionários de três usinas hidrelétricas da região, o que eleva o número para 17.013.
"O processo de reforma agrária no Pontal não tem data para terminar. Pode durar 50, 100 anos", diz Diolinda Alves de Souza, 26, uma das líderes do MST.
Para o líder José Rainha Jr., as invasões são a única forma de colocar na mesa de negociações governo e fazendeiros. Só nos primeiros oito dias deste ano, sete invasões em três municípios mobilizaram 1.200 famílias.
Coincidência ou não, os sete fazendeiros envolvidos estudam ou já estão negociando com o governo acordos para desapropriação.
Novo Pará
Roosevelt dos Santos não descarta a possibilidade de o Pontal se transformar em um sul do Pará, região onde as mortes em conflitos de terra se tornaram frequentes.
"Tenho receio disso. Uma pessoa tomada de emoção pode revidar às invasões criminosas dos sem-terra e pode acontecer uma tragédia a qualquer momento", afirma o líder da UDR.
No domingo retrasado, a PM teve de intervir com rajadas de metralhadora na fazenda Santa Rita, em Mirante do Paranapanema, quando seguranças tentaram impedir a tiros uma invasão.
A expectativa do secretário estadual da Justiça, Belisário dos Santos Jr., é que em cinco anos outras 2.000 famílias sejam contempladas, em áreas devolutas. "Não cabem mais", diz. Restariam as terras improdutivas.

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