São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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Alca é factível e necessária em 2005, avaliam os EUA

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O subsecretário Stuart Eizenstat prosseguiu sua entrevista à Folha.
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Folha - Os números sobre comércio entre Brasil e EUA mostram que o Mercosul é um bloco regional aberto. Entre essas avaliações contraditórias, a do Mercosul dizendo que pratica um regionalismo aberto e o Banco Mundial achando que é uma "fortaleza", para que lado se inclina seu coração?
Eizenstat - É verdade que as exportações norte-americanas cresceram rapidamente, mas, historicamente, o Brasil exportou mais do que importou. Era inevitável que nossas exportações crescessem mais, pois o mercado brasileiro era mais fechado que o nosso.
Por isso, acho que é uma situação mista. Tendo a ter uma visão positiva do Mercosul, mas o relatório do Banco Mundial nos fez parar e pensar de novo.
Folha - Outra fonte de tensão será a chamada cláusula social, rejeitada pelo Brasil. Se os EUA insistirem nela, as negociações sobre a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) serão ainda mais difíceis...
Eizenstat - Não há dúvida de que a cláusula social será um tema conflituoso. Muitos países em desenvolvimento da América Latina a entendem incorretamente, como se fosse um meio de retirar-lhes a vantagem comparativa. É preciso entender do que estamos falando.
Nos acordos paralelos com o México (para a formação do Nafta), não tratamos de impor nosso salário mínimo nem nossos padrões trabalhistas e de saúde. Apenas pedimos que pusessem em efetiva prática suas próprias leis trabalhistas. Falamos só de direitos mais fundamentais: não abusar do trabalho infantil, não utilizar trabalho de presidiários para exportações, negociar coletivamente.
Folha - O Brasil diz que necessita de tempo para respirar e poder promover novas aberturas econômicas. O sr. acredita que se possa chegar à Alca em 2005?
Eizenstat - Não só acho que se pode como acho que é necessário. O mundo está em uma corrida de curta distância e alta velocidade. Você tem que continuar correndo para acompanhá-lo.
Folha - Nas negociações do ano passado, as autoridades brasileiras defendiam que a última coisa a ser negociada seria a redução de tarifas de importação...
Eizenstat - A posição brasileira é a de que deve haver uma operação escalonada, com duas ou três etapas antes de entrar na questão de acesso a mercados. Esse esquema não é incompatível com fazer-se simultaneamente a discussão sobre acesso a mercados.
Folha - Há divergências também na área de telecomunicações...
Eizenstat - As negociações sobre telecomunicações sublinham uma nova filosofia na nossa administração. Na maior parte do pós-guerra, nós abrimos nossos mercados em termos favoráveis e não pedimos muito em troca. Particularmente na Ásia e menos na América Latina, nós toleramos cartéis e monopólios como necessários para que as indústrias desses países se consolidassem. Agora, necessitamos de uma massa crítica dos países em rápido desenvolvimento que concorde com alguma razoável abertura escalonada de mercados.

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