São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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'Bibi' quer limites para governo palestino

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)

Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, não está preocupado em como vai se chamar a instituição em que viverão os palestinos: Estado, Entidade ou qualquer outra designação.
Está, sim, determinado a estabelecer um claro limite para a autodeterminação palestina, ponto vital das negociações para o acordo final com os palestinos.
Estes poderão eleger suas autoridades, cobrar impostos, ter instituições próprias e algumas outras características vitais de um Estado.
Só não poderão autogovernar-se em itens que "ameacem a segurança de Israel", disse "Bibi" Netanyahu ontem, em café da manhã com um limitado grupo de jornalistas que acompanham o Fórum Econômico Mundial.
Entre tais itens, o premiê israelense menciona controlar o espaço aéreo, importar certo tipo de armas ou fazer pactos com países (Irã, Iraque, por exemplo) que Israel considera "perigosos".
Ou, para resumir em uma frase de efeito: "Nenhum país é uma ilha, e uma Entidade não é necessariamente um país".
Os limites do Estado ou da Entidade Palestina descritos pelo premiê são uma resposta a um projeto comum de parlamentares da coalizão governista (o conservador bloco Likud) e do Partido Trabalhista, de oposição, apresentado no início da semana.
O projeto não definia se os palestinos teriam um Estado ou uma Entidade, mas era o primeiro esforço conjunto de lideranças israelenses, politicamente antagônicas, para encaminhar as negociações com os palestinos.
Aposta na riqueza
O desenho de Netanyahu é claramente incompatível com os desejos palestinos de ter um Estado com todo o grau de soberania que se atribui aos Estados.
Mas o premiê israelense dá a nítida sensação de que confia em que o tempo e as circunstâncias trabalharão a favor de seu projeto.
A circunstância número 1 é econômica, não política. A uma platéia ávida para discutir o processo de paz, depois do acordo sobre a cidade de Hebron, "Bibi" fez um discurso inicial sobre negócios.
"O propósito de minha vinda a Davos é fazer negócios", disse.
Por quê? Porque ele acha que Israel tem condições incomparáveis para, em poucos anos mais, "estar entre a meia dúzia de países mais ricos do mundo".
A principal condição é o fato de, segundo o premiê, possuir uma base produtiva assentada essencialmente no conhecimento, justamente o ativo mais importante na era da sociedade da informação e tecnologia.
"Temos mais cientistas per capita do que qualquer outro país no mundo", disparou.
Até permitiu-se a ironia de agradecer ao comunismo da ex-União Soviética por ter produzido "uma sociedade maligna, mas grandes cérebros". Os cérebros judeus produzidos por essa "sociedade maligna" emigraram em massa para Israel, aumentando o seu já notável estoque de conhecimentos.
O tempo também trabalha para Israel. O premiê diz que, nos dois ou três anos mais recentes, houve mais investimentos diretos estrangeiros em Israel do que nos 30 anos anteriores.
Ou seja, o fato de ter havido um acordo apenas parcial de paz não impediu o afluxo de capitais, o que dá a Israel o tempo que quiser para as negociações sobre o acordo definitivo.
O terrorismo
Até porque, gabou-se "Bibi", não houve nenhum ataque terrorista em grande escala, desde que assumiu, há seis meses.
Mantido esse cenário, como o premiê acredita, o capital continuará afluindo, e a força econômica do Estado judeu, já muito superior à de seus vizinhos, fará o resto do trabalho de convencimento para que aceitem um Estado de soberania limitada.
Netanyahu parece confiar também no que considera uma mudança fundamental no modo de negociar com os palestinos.
Para ele, o governo anterior (trabalhista) tinha na cabeça apenas a idéia de fazer concessões aos palestinos. O novo governo, ao contrário, exige reciprocidade.
"Cada lado tem de cumprir seus compromissos, como em qualquer acordo" , diz "Bibi", citando, entre os compromissos palestinos supostamente não-cumpridos, não mais oferecer abrigo seguro para terroristas.

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