São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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Assanhamento inútil

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Gostaria de, ao menos nesse assunto, não ser do contra. Mas até agora não me convenci da necessidade dessa badalação doméstica pela realização da Olimpíada de 2004 no Rio. Desafio que haja no planeta um carioca que ame a sua cidade mais do que eu. Mas amor é uma coisa. Burrice é outra.
A agitação que está sendo feita -e cujo ponto máximo até agora foi um baile no porta-aviões "Minas Gerais"-, além de burra, é inútil. Trata-se de converter os convertidos, ou seja, convencer a nós mesmos de que somos os melhores para promover uma Olimpíada em casa.
Ignoro o preço desses eventos e dessa publicidade. Acredito que, por menor que seja, melhor seria empregado se tentasse converter os gentios, o pessoal lá de fora que, com razão ou sem ela, desconfia de nossas possibilidades.
No caso específico da festa do "Minas Gerais", em termos de marketing, foi um tiro para trás. Exibimos o nosso mais suntuoso vaso de guerra (nem sei porque chamam esses navios de "vasos"), velho de alguns anos, completamente superado como arma de guerra. Se algum integrante do Comitê Olímpico tomou conhecimento da festança, deve ter feito péssimo juízo da nossa capacidade nacional.
Deus é testemunha do quanto torço para que o Rio ganhe a parada. Mas cada vez que vejo esse tipo de promoção entre quatro paredes para um evento internacional da importância de uma Olimpíada sinto que somos apenas assanhados. Não tenho elementos para avaliar, por exemplo, que influência mundial possa ter a opinião de Dona Neuma da Mangueira ou de Dona Zica do Cartola.
Mobilizar essa fauna folclórica, que de uma forma ou de outra sempre custa algum dinheiro, é mais do que um simples desperdício de tempo e pecúnia. É demonstrar um primarismo infantil que só não é inocente porque tem sempre gente que sai ganhando com isso.

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