São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Canadá abre as portas para estrangeiros

CECÍLIA NASCIMENTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Evoluir profissionalmente, ter direito a saúde, educação, transporte público de qualidade e a andar nas ruas sem medo de violência são alguns dos motivos que tem levado muitos brasileiros a escolher um novo país: o Canadá.
Segundo a embaixada do Brasil em Ottawa, 7.500 brasileiros vivem legalmente hoje no país. A maior parte deles -5.800- está concentrada na província de Ontário, na região dos Grandes Lagos.
Os brasileiros são atraídos pela política de imigração organizada do governo canadense, que tem como meta preencher lacunas de mão-de-obra especializada e povoar um país maior que o Brasil (9,16 milhões de km2), mas com uma população cinco vezes menor (29,6 milhões de habitantes).
Muitos canadenses recém-formados mudam-se para os Estados Unidos em busca de salários melhores, provocando escassez de mão-de-obra em algumas áreas.
Tal mudança é facilitada pelo Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte).
Além de profissionais qualificados, o Canadá aceita refugiados políticos e de guerra, parentes de imigrantes e empresários.
Geração de empregos
Para abrir um negócio, o candidato deve garantir ao governo a criação de pelo menos um emprego para um canadense, cidadão canadense ou imigrante legal. A quantia inicial exigida depende da província escolhida como destino.
Os pedidos de imigração são feitos nos consulados do Canadá no Brasil. São avaliados fatores como qualificação profissional, grau de instrução, experiência de trabalho, idade e conhecimento de idiomas (inglês ou francês). Grande parte dos brasileiros que têm visto de trabalho atuam em informática.
Québec, a única das dez províncias onde o idioma falado é o francês (e não o inglês), tem uma política própria para imigrantes. As regras também são conhecidas nos consulados do Canadá no Brasil.
Além da permissão de trabalho, o residente tem direito ao sistema público de saúde, educação (curso de inglês) e seguro social. O salário mínimo vigente é de 6,75 dólares canadenses por hora, o equivalente a US$ 5.
Após três anos, o imigrante pode adquirir cidadania canadense, que lhe dá direito a voto em eleições. O voto não é obrigatório.
São esperados este ano 200 mil novos residentes vindos dos cinco continentes. A previsão é de que a maior corrente imigratória -cerca de 150 mil pessoas- venha de Hong Kong, em função do retorno da ilha à possessão chinesa, em junho deste ano.
O canadense reconhece a importância dos imigrantes para a sobrevivência da economia e, em geral, não há problemas de discriminação. Em Toronto, os estrangeiros representam 44% da população.
O português é o quarto idioma mais falado -depois do inglês, francês e chinês-, devido à forte presença de imigrantes portugueses. A comunidade se concentra em duas ruas -Dundas Street West e College Street.
Nelas, os brasileiros afastam a saudade da terra tomando suco de acerola e comendo em pequenos bares e restaurantes.
No Brasília Restaurant, localizado na Dundas Street, o cardápio oferece pratos típicos como feijoada, carne-de-panela e frango ensopado, com direito a cocada e pé-de-moleque na sobremesa.
A loja Brazilian Profile, na College Street, vende guaraná, sucos tropicais, comidas típicas e artigos de vestuário. Jornais e revistas brasileiros são vendidos com uma semana de atraso.
Os produtos mais procurados na loja são fitas de vídeo com capítulos de novelas, telejornais e programas de televisão gravados no Brasil e alugados na loja.
Clima
Na biblioteca central da cidade, os moradores têm acesso gratuito à Internet. Desse modo, é possível ler nos terminais os jornais e revistas brasileiros ligados à rede.
Acostumados ao clima tropical, os brasileiros sofrem com as baixas temperaturas durante o ano. Em Toronto e Montreal, são três meses de frio intenso (dezembro, janeiro e fevereiro), com uma média diária de 10°C negativos.
Nos dias mais frios, a sensação térmica, considerando o vento, pode chegar a 45°C negativos. Em Vancouver, na costa do Pacífico, o clima é mais ameno, com média de 5°C durante o inverno.
Além do clima, algumas diferenças culturais exigem do imigrante esforço de adaptação. No trabalho e na vida social, o canadense é mais reservado e evita falar da vida privada. Entretanto, preocupa-se com o bem-estar coletivo.
É um povo que gosta de aprender com outras culturas, até mesmo para entender as influências que o país está recebendo com a presença dos imigrantes.
O conhecimento que os canadenses têm em relação ao Brasil são basicamente sobre a Amazônia, as escolas de samba do Rio e os jogadores de futebol.
Na imprensa local, vêm recebendo destaque notícias sobre violações de direitos humanos, como assassinatos de meninos de rua e de trabalhadores rurais.

Texto Anterior: Surfe na Austrália; Para maiores de 50; Família na Flórida; Conhecendo Malta; Aulas na Espanha; Design com italianos; Línguas no Canadá
Próximo Texto: Edimburgo é cenário do 'crime perfeito'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.