São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Tenente ator é detido pela Aeronáutica

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Detido 15 dias pelo comando da Base Aérea do Galeão, no Rio, o tenente, dentista e ator Carlos Machado, 31, suspeita que o preconceito contra o homossexualismo pode ser a origem da punição.
Oficialmente, ele foi punido por ter posado para fotos vestido apenas com um sunga, ao lado da farda militar.
Machado trabalha em "Alta Vigilância", peça de temática homossexual escrita pelo francês Jean Genet e encenada há quatro semanas no teatro Cândido Mendes (zona sul do Rio) pelo diretor Franncis Mayer. Seu personagem beija um homem na boca e aparece em nu frontal no palco.
O 3º Comar (Comando Aéreo Regional), no Rio, não comentou o caso. O comandante da base, coronel Jorge Godinho Nery, também não quis falar.
*
Folha - Há quanto tempo o sr. ingressou na Aeronáutica?
Machado - Cinco anos. Fui punido no meu último dia de serviço. Pedi baixa em 31 de janeiro, mesmo dia em que fui punido.
Folha - A punição foi surpresa?
Machado - Sim, pois o comandante me chamou para conversar. Fazia idéia de que poderia ser advertido. Amigos já tinham me avisado. Fui para uma sala com o coronel, um major e um capitão. Me disseram que seria punido com a pena máxima que um coronel pode aplicar em um tenente.
Folha - Qual sua reação?
Machado - Argumentei desconhecer que cometera uma falha. No Regulamento Disciplinar não consta ser transgressão um oficial tirar foto ao lado do fardamento.
Folha - O sr. não acha que a fotografia é um pretexto para puni-lo por interpretar cenas de nu frontal e homossexualismo na peça?
Machado - Não devo dar opinião. Amigos acham isso. De qualquer forma, o personagem não é homossexual. É casado, mas não tem contato com a mulher por causa da prisão. E sucumbe ao assédio, como ocorre nas prisões.
Folha - Por que o sr. ingressou na Aeronáutica?
Machado - Foi a Aeronáutica que me chamou. Era voluntário em Juiz de Fora (MG).
Folha - Houve restrições no meio militar à sua atividade de ator?
Machado - Nunca houve nada.
Folha - O sr. pretende largar a profissão de dentista?
Machado - Jamais. Vou trabalhar em um consultório particular com um coronel e um tenente.

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