São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Máfia FC

JUCA KFOURI

Claudinho, o "Bosman brasileiro", brilhou na Copa São Paulo de juniores, levou o Lousano ao título e foi o melhor jogador da competição.
Mesmo assim, está difícil para ele encontrar um time no qual possa disputar a primeira divisão paulista, tal o cerco que sofre por ter ido à Justiça para conquistar seu passe.
Lousano-Paulista, da segunda divisão, à parte, Claudinho é vítima de silenciosa sabotagem feita pelos cartolas.
*
Se Claudinho foi objeto de uma grosseira falsificação da assinatura de seu pai quando "contratado" pela Ponte Preta, quem também se viu em maus lençóis foi o centroavante Kelly, ex-Bragantino.
Passando férias em Águas de São Pedro, o jogador recebeu uma truculenta visita do deputado federal Marquinho Chedid (ele mesmo!) e de mais quatro homens -o presidente do Bragantino, Sidnei Machado, o zagueiro Nei, Neno, funcionário do clube e um desconhecido- durante a madrugada do dia 5 de janeiro.
Foi pressionado a assinar um contrato em branco com o Bragantino, embora fosse jogador do Lousano-Paulista que estava em vias de emprestá-lo ao clube espanhol do Logroñes.
Seu passe havia sido cedido em 80% ao Lousana-Paulista pelo Bragantino, que ficou com 20%, na gestão de Jesus Chedid, tio do deputado, para quitar as dívidas do clube de Bragança Paulista e devolvê-lo ao sobrinho e ao irmão, Nabi Abi Chedid, com quem rompera relações.
O clube de Jundiaí ficou com o direito de administrar a carreira do artilheiro.
Kelly lavrou um boletim de ocorrência na delegacia local relatando a pressão que sofrera e quase não pôde ir para a Espanha, pois Marquinho Chedid vinha tentando impedir o registro de seu contrato junto a Federação Paulista de Futebol.
Temerosa de que tais fatos viessem à luz, a FPF acabou, poucos dias depois dos acontecimentos em Águas de São Pedro, aceitando o registro que havia mais de um mês o Lousano-Paulista procurava sem êxito -e Kelly foi para a Espanha.
Ninguém reclamou porque tudo acabou bem, abrindo-se mais uma cortina de silêncio -aquilo que na máfia italiana se chama de "omertá".
A mesma "omertá" que impede o progresso do futebol desse talentoso Claudinho que, diferentemente do belga Bosman, não quer ser apenas um símbolo libertário, já que tem muita bola para mostrar.

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