São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Ele volta como uma canção da bossa-nova

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, o Rio-SP aprovou amplamente a regra do limite de faltas coletivas para cada time.
Mas, apesar das ótimas intenções, não ficou plenamente aprovada a pena de cinco minutos fora de campo para os jogadores que cometem individualmente o número de cinco faltas em uma mesma partida.
Em primeiro lugar, pela diferença de natureza entre o delito e a sentença.
Aplica-se uma punição coletiva (o time fica momentaneamente com dez ou menos jogadores) para uma reincidência de ilícitos individuais.
Fulano bate muito, e quem sofre a punição são os seu companheiros, que ficam em menor número dentro do campo.
Além disso, para alguns jogadores, os cinco minutos fora podem representar até mais um prêmio -uma oportunidade para a recuperação física- do que uma punição.
Mantendo o princípio da punição individual, que considero válido, poderia-se tentar fazer simplesmente o que faz o basquete: eliminar da partida o jogador com cinco faltas, mantendo o direito de preenchimento da sua vaga.
Assim estaria preservado o espírito da prevenção do excesso de faltas individuais, mas o coletivo deixaria se ser punido pela má conduta de alguns.
Quanto ao limite de 15 faltas coletivas, como deve levar tempo para ser oficializada mundialmente, sugiro que seja preservado nos próximos torneios nacionais, nos quais é permitido alguma experimentação, para que se torne um teste que possa ser analisado consistentemente pelos estudiosos e pelos organismos que gerem o futebol internacional.
Não custa nada, a nós que estamos tão atrasados na administração do futebol, pegar uma boquinha na vanguarda de certas idéias.
*
Romário, felizmente, voltou a jogar bola.
O futebol de Romário tem tudo a ver com a bossa-nova: o menos é mais, simples, essencializador, cool, direto.
É o futebol de uma objetividade rara: poucos toques na bola, pouco esforço físico; tudo parece de uma facilidade óbvia, de uma fluência natural.
Romário tem a ver com os móbiles de Calder, com a pintura de Mondrian, com a arquitetura de Oscar Niemayer.
Como é bom vê-lo novamente mostrando a beleza da linha, o efeito corrosivo de um balanço, a intuição malemolente do que é funcionalmente simples no futebol.
A quem devemos essa dádiva da volta do seu talento a essa prancheta de grama, a essa praia verde, a esse suporte -como diriam os artistas- que a sua técnica refinadamente sutil conhece tão bem?
Take it easy, Romário, take it easy. Porque nós estamos aqui, assombrados, crentes nos seus poderes, cantando para Deus proteger-te.
*
O fim-de-semana foi um show de bola brasileiro na encantada Espanha.
Ronaldinho, Flávio Conceição, Rivaldo, Roberto Carlos.
Quanto talento, quanto magia, quanta harmonia com os caprichos da bola que emanam dessa garotada brasileira.
Que o velho Lobo não tenha conseguido ainda uma seleção é algo que intriga, némesmo?

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