São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Science morre à beira do mangue

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O corpo do cantor e compositor pernambucano Chico Science, morto domingo à noite em um acidente de carro, entre Olinda e Recife, foi velado ontem no centro de convenções do Memorial Arcoverde, em frente ao local onde ocorreu o acidente.
"É para que o povo possa homenagear", explicou o pai do cantor, Francisco Luiz França, 66.
Chico Science, 30, morreu a poucos metros de um mangue, o símbolo do movimento que criou e liderou por cinco anos.
O acidente que matou o artista aconteceu quando o carro que dirigia -um Fiat Uno- bateu em um poste e na grade que protege os jardins do parque Memorial Arcoverde.
O músico teria sido fechado por um veículo não identificado. Chico Science -que se chamava Francisco de Assis França- sofreu fraturas múltiplas na face, traumatismo craniano e afundamento do tórax. Ele estava sozinho no carro.
O artista ainda foi socorrido por policiais militares e transportado para o hospital da Restauração, distante cerca de dois quilômetros, mas chegou morto.
Ontem de manhã, policiais militares foram chamados para organizar a fila de 50 metros dos fãs que esperavam para entrar no velório do cantor. Só foram permitidas quatro pessoas por vez, para evitar tumultos.
O acidente ocorreu após Chico Science deixar a casa da irmã, a enfermeira Maria Gorete França, 34, no bairro de classe média de Graças, zona norte de Recife.
O artista se dirigia para a casa do percussionista da banda Nação Zumbi, que o acompanhava, Jorge du Peixe, em Olinda. Em seguida, assistiriam na cidade a uma apresentação do grupo de maracatu Acabralada.
Chico Science, que tinha um Galaxie Landau 79 cinza com capô preto, preferiu sair com o Fiat Uno branco da irmã, "por ser mais fácil de estacionar", disse o artista plástico e amigo do cantor Félix Farfan, 36.
Farfan foi procurado por Science para acompanhá-lo no programa. "Ele telefonou e não me encontrou. Quando retornei a ligação, ele já havia saído", lembrou.
"Com o Landau, ele fazia ironia ao período de repressão. Dizia que, hoje, ele tirava onda no símbolo de ostentação da época", disse Farfan. "Se estivesse com o Landau, talvez não tivesse morrido."
O governador pernambucano Miguel Arraes (PSB), 80, soube em Brasília do acidente, à 1h de ontem, por intermédio de seus assessores. Ele decretou ontem luto oficial no Estado por três dias. A polícia técnica ainda apura as causas do acidente.
Tribulto
O ator e músico Antônio Nóbrega manteve o desfile do bloco Na pancada do Ganzá, previsto para ontem e hoje à noite, na praia da Boa Viagem, em Recife.
Nóbrega disse que a manutenção do desfile serviria para uma espécie de "tributo" à memória de Chico Science.
Eles iriam se apresentar juntos no bloco, sobre um trio elétrico. Seria a primeira apresentação conjunta dos dois.

LEIA MAIS sobre Chico Sciece à pág. 4-10

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